A famosa gata Lil BUB teve seu genoma decifrado

Ganhando enorme fama na internet, especialmente no YouTube, desde 2011, a gata celebridade Lil BUB conquistou a adoração de pessoas no mundo inteiro por causa principalmente das suas características anatômicas mais do que peculiares em relação a outros gatos e a outros felinos. BUB possui dedos extras (polidactilia), membros mais curtos do que o normal (nanismo), e uma língua que fica permanentemente pendurada para fora da sua boca! Além disso, desde cedo BUB tinha sido diagnosticada com osteopetrose maligna infantil, uma condição muito rara que em humanos afeta 1 em cada 250000-300000 indivíduos. Agora, cientistas sabem as causas o fenótipo único dessa gata.

Há anos, Lil BUB tem sido uma das principais imagens de campanha para a adoção de animais em abrigos, e acumulou milhões de fãs nas redes sociais. Essa semana - graças a um crowdfunding que arrecadou mais de US$8000 - um grupo de geneticistas liderados por Darío Lupiáñez do Centro para Medicina Molecular Max-Delbrück, em Berlim, Daniel Ibrahim do Instituto Max Planck para Genética Molecular, também em Berlim, e Orsolya Symmons da Universidade da Pennsylvania, EUA, conseguiram sequenciar todo o genoma de Lil BUB, publicando os resultados hoje no periódico bioRxiv.

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A análise genética revelou que a famosa gata possui duas mutações genéticas: uma mutação heterozigótica no gene 'Sonic hedgehog' - o qual afeta o desenvolvimento dos membros -, e uma nova deleção homozigótica afetando o gene TNFRSF11A (RANK), o qual está ligado à osteopetrose em humanos e que explica a mesma doença que afeta BUB. A expressão combinada de ambos os genes é a principal responsável pelo seu distinto fenótipo.

A osteoporose maligna infantil é uma desordem causada por uma falha dos osteoclastos, levando a um desbalanço entre o processo de reabsorção óssea - realizado por tais células - e a formação dos ossos - controlada pelos osteoblastos. Essas duas células controlam o desenvolvimento normal dos ossos e, portanto, uma falha funcional em qualquer uma das duas pode levar a um acúmulo de tecido ósseo, causando um aumento da densidade óssea, susceptibilidade a fraturas e diversos outros efeitos colaterais anatômicos. Causada por variações em mais de um gene, a doença só consegue ser curada hoje com o transplante de células-tronco hematopoiéticas, apesar de sucesso com outras terapias já ter sido reportado, como a terapia genética (1). Em gatos, a doença é raríssima, e parece que pode ser adquirida através de infecções com retrovírus.

(1) Leitura recomendada: A revolucionária terapia genética

Já para a polidactilia, condição caracterizada pela presença de um dedo extra sobre o dedão ou do lado da pata - relativamente comum em gatos, especialmente entre certos cruzamentos (Maine Coon e Pixie bob, por exemplo) - foram revelados como possíveis candidatos três mutações no cromossomo A2, na região (enhancer) regulatória do gene Sonic hedgehog ('Sonic, o ouriço'). Entre esses alelos, um é conhecido de prevalecer nos gatos Norte-Americanos, incluindo em uma colônia de gatos polidáctilos no estado de Ernest Hengway em Key West. Outras mutações nesses gene são associadas com polidactilia entre galinhas, cães, ratos e humanos, evidenciando uma conservação evolucionária.

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HISTÓRIA DE LIL BUB 

A gata Lil BUB foi encontrada como um filhote selvagem que foi abandonado pela sua mãe em uma área rural de Indiana, nos EUA, e acabou sendo adotada por Mike Bridavsky. Ela nasceu com várias má-formações, a grande maioria relacionada com o crescimento e desenvolvimento ósseo. Aos 7 meses de idade, BUB parou de crescer e permaneceu do tamanho de um filhote (massa adulta: 1,8 kg), representando um caso extremo de nanismo, e fazendo seus membros ficarem muito pequenos em comparação com seu corpo.

Desde seu nascimento BUB era menor do que os outros gatos e, aos 10 meses de idade, seus movimentos se tornaram severamente restritos. Estudos radiológicos revelaram cavidades medulárias opacas e metáfises abertas resultando em uma "Deformidade Frasco de Erlenmeyer" e ossos longos curvados. Múltiplas bandas transversas radiopacas e radioluzentes estavam presentes na metáfise, um sinal típico de problemas com reabsorção óssea. Costela e esterno foram engrossados e as epífises dos ossos longos ficaram pequenas, enquanto fises adjacentes ficaram finas.

Mesmo com essas deformidades, BUB consegue se movimentar bem, apesar de bastante limitada em comparação com outros gatos.

Além disso, o crânio e a mandíbula de BUB permaneceu subdesenvolvidos, com sua língua e olhos - de tamanhos normais - projetando-se para fora das cavidades cranianas bem mais do que o normal, especialmente a língua. Nesse sentido, seus dentes também não emergiram ou não estão presentes, exceto por uma ou duas pequenas coroas no maxilar direito. Ausência completa do osso palatino.

Mas apesar dos seus dentes ausentes e mandíbulas subdesenvolvidas, BUB não possui dificuldade para comer alimentos sólidos (úmidos ou secos).

Em relação à polidactilia, BUB possui um polegar extra em todas as patas, totalizando 22 dedos (6 em cada pata dianteira e 5 em cada pata traseira). Gatos normais possuem 18 dedos (5 nas patas dianteiras e 4 nas patas traseiras).

Bub faz muito sucesso nas redes sociais, e possui um notável canal no YouTube (2), além de participar de diversas campanhas para projetos de proteção aos animais.

(2) Canal: Lil HUB

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IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Além de chamar mais a atenção do público para o campo da genética, contribuindo para a popularização da ciência, o novo estudo também contribui para um maior entendimento de raras doenças que não só afetam humanos como animais não-humanos. Geralmente, tais doenças acabam sendo deixadas de lado para um foco maior em doenças mais comuns, seja na medicina tradicional seja na medicina veterinária. O suporte para pesquisas como essa ajuda a orientar melhor os profissionais de saúde e o desenvolvimento de novas e/ou mais eficientes terapias.


Publicação do estudo: bioRxiv