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Mulheres na Europa Medieval não só escreviam como pintavam valiosos manuscritos religiosos


Durante a Idade Média na Europa, textos escritos e alfabetização eram amplamente confinados às instituições religiosas. Manuscritos ricamente ilustrados eram criados em monastérios para o uso por membros de instituições e pela nobreza. E alguns desses manuscritos eram enfeitados com luxuosas tintas e pigmentos, incluindo folhas de ouro e ultramarino, um raro e caríssimo pigmento azul feito da pedra de lápis lazúli. Nesse contexto, sempre foi pensado que as atividades de manufatura dessas escrituras e ilustrações eram realizados quase que exclusivamente por homens (monges), com as mulheres (monjas) tendo apenas uma participação mínima no processo.

Antes do século XV, escribas e iluminadores não assinavam seus trabalhos, tornando incerto hoje a identidade dos responsáveis pela escrita e arte das obras literárias religiosas na Europa Medieval. Mesmo entre livros encontrados na biblioteca de monastérios exclusivos às mulheres, menos do que 15% carregam nomes ou títulos femininos, e, antes do século XII, menos do que 1% dos livros podem ser atribuídos às mulheres. Por causa disso, há muito tempo é assumido que monges, ao invés de monjas, eram os principais produtores de obras literárias ao longo da Idade Média. No entanto, descobertas arqueológicas em anos recentes vêm revelando que as mulheres religiosas Medievais não só eram alfabetizadas mas que também parecem ter tido um amplo papel ativo na produção literária da Europa, especialmente na região hoje da Alemanha e da Áustria, onde os trabalhos literários das monjas podem ser traçados desde o século VIII.

Em Admont, na Salzburg, por exemplo, existia uma comunidade de freiras que copiavam vários dos mais de 200 livros sobreviventes de coleções de livros de monastérios do século 12. Em Diemut, uma mulher escriba do monastério de Wessobrunn, Bavária, produziu mais de 40 livros, incluindo um altamente iluminado gospel. Do século XIII até o século XVI, na Alemanha, mais de 4000 livros foram encontrados e atribuídos a mais de 400 mulheres escribas, e ativos escritórios literários foram identificados em 48 monastérios de mulheres.

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Agora, em um estudo publicado no periódico Science Advances, um time internacional de pesquisadores liderados pelo Instituto Max Planck para Ciência e História Humana e pela Universidade de York trouxe mais uma inesperada evidência de que as mulheres possuíam um papel mais do que importante na feitura dos manuscritos religiosos, e não apenas como escribas. O estudo descreveu a descoberta do pigmento lápis lazúli incrustado em placas dentais calcificadas pertencentes a uma mulher de meia idade enterrada em um pequeno monastério na Alemanha datado do ano de 1100 d.C. As análises fortemente sugeriram que a mulher provavelmente era uma pintora de alto nível dos textos religiosos.

O monastério em questão estava localizado na região Alemã de Dalheim, com data de fundação incerta devido à escassez de registros conservados no local, apesar de uma comunidade de mulheres talvez ter se formado lá no início do século X. Os mais antigos registros escritos do monastério datam do ano de 1244 d.C., o qual parece ter abrigado cerca de 14 mulheres religiosas desde sua fundação até sua destruição por um incêndio seguindo uma série de batalhas no século XIV. No cemitério associado ao monastério, os pesquisadores responsáveis pelo novo estudo encontraram uma mulher que possuía numerosas manchas de um pigmento azul embebido em seus cálculos dentais. Ela possuía 45-60 anos de idade quando morreu - entre os anos de 1000 e 1200 d.C, segundo datação de radiocarbono. Ela não possuía nenhuma patologia em particular, e nem evidências de trauma ou infecção. O único aspecto peculiar em seus vestígios ósseos eram as partículas azuis encontradas nos dentes.



Usando diferentes técnicas espectrográficas - incluindo espectroscopia dispersiva de raio-X (SEM-EDS) e espectroscopia micro-Raman - os pesquisadores revelaram que as partículas azuis eram de lápis lazúli.

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Vários cenários foram propostos para explicar a presença e específica distribuição desse valioso pigmento nos dentes da mulher, e somente um fez sentido: ela pintava com o pigmento e lambia a ponta do pincel enquanto pintava, para otimizar a pintura. Hipóteses envolvendo o uso do pigmento como remédio (eram atribuídos poderes mágicos e de cura à sua matéria-prima), em ritos de devoção e mesmo sua preparação (ao invés do uso artístico em si) são pouco prováveis, apesar de não poderem ser descartadas.


O uso de pigmentos altamente purificados feitos com lápis lazúli era reservado, junto com ouro e prata, para os mais luxuosos e importantes manuscritos. Apenas escribas e pintores de excepcional habilidade eram confiados tal tarefa. Isso significa que as mulheres no século XI da Europa central, diferente do que hoje é comumente assumido, possuíam papel de grande importância na manufatura de valiosas obras religiosas e treino artístico de alto nível. Antes, o mais antigo livro da região Germânica sobrevivente que possuía o pigmento de lápis lazúli para a feitura das sua ilustrações, e que é atribuído a uma mulher escriba, é uma cópia do Liber Scivias (Biblioteca da Universidade de Hidelberg, Códex Salemitani X,16), encontrado em um monastério de mulheres em Rupertsberg e produzido em torno do ano 1200 d.C. pela famosa Hildegarda de Bingen. No entanto, as pinturas não assinadas no luxuoso livro tinham sido feitas por no mínimo dois indivíduos, o que torna incerto se a mulher havia pintado ou se foi um monge.


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Além disso, a presença desse pigmento em um pequeno e isolado monastério no norte da Alemanha desafia a ideia de que sua disponibilidade na Europa medieval era limitada, e dá suporte para um robusto circuito de comércio a longa distância durante a revolução comercial Europeia no século XI.

A economia crescente da Europa Medieval nessa época fomentou a demanda pelo precioso e raro pigmento ultramarino que viajava milhares de km através das caravanas e navios mercantes em rotas comerciais Asiáticas para servir uma artista mulher.


Publicação do estudo: Science Advances

Mulheres na Europa Medieval não só escreviam como pintavam valiosos manuscritos religiosos Mulheres na Europa Medieval não só escreviam como pintavam valiosos manuscritos religiosos Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 28, 2019 Rating: 5

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