A série '13 Reasons Why' está influenciando nos casos de suicídio entre adolescentes

De acordo com um estudo recentemente publicado no Psychiatric Services, uma significativa proporção de adolescentes suicidas tratados em um departamento psiquiátrico de emergência disseram que assistir à série da Netflix '13 Reasons Why' aumentou o risco deles de suicídio.

A série de drama teve um sucesso assombroso na sua primeira temporada, principalmente entre os adolescentes. Baseada em um livro de mesmo nome (Thirteen Reasons Why, 2007, de Jay Asher), a série estreou no dia 31 de março de 2017 e sua história centra-se em uma estudante de 17 anos de idade que, antes de tirar a própria vida, registra em fitas cassetes 13 razões pelas quais ela realizou tal ato.

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A série gerou bastante controvérsia pela forma como retratava o suicídio, levantando preocupações entre especialistas de saúde sobre os potenciais impactos negativos sobre jovens mais vulneráveis (depressivos, por exemplo).

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade de Michigan resolveram questionar adolescentes que tentaram suicídio se a série contribuiu para os sintomas relacionados ao comportamento suicida. A inspiração para o estudo surgiu por causa de relatos anedóticos compartilhados entre profissionais de saúde colegas dos pesquisadores de que adolescentes sendo tratados com sintomas associados ao suicídio estavam comentando calorosamente sobre a série.

Dos 87 jovens que participaram da pesquisa entre 2017 e 2018, metade deles tinham assistido a pelo menos um episódio da série, a maioria adolescentes de 13 a 17 anos. Entre os 43 que tinham assistido à série, cerca de metade (21) disseram que ela contribuiu para o  aumento do risco de suicídio. Dos participantes totais, 71% eram do sexo e gênero masculinos, 26% do sexo e gênero femininos, e 2% eram transgêneros.

"Essa série tem sido um real fenômeno, especialmente entre adolescentes," disse o autor principal do novo estudo, Victor Hong, diretor médico dos serviços psiquiátricos de emergência na Escola de Medicina de Michigan, em entrevista para o jornal da Universidade de Michigan (1). "Seu retrato do suicídio juvenil tem levado grande preocupação entre pais, profissionais de saúde e educadores. Nosso estudo não confirma que a série está aumentando o risco de suicídio, mas confirma que nós definitivamente precisamos nos preocupar sobre o impacto dela em jovens mais vulneráveis e impressionáveis."

"Poucos acreditam que esse tipo de exposição à mídia irá levar as crianças e adolescentes que não estão depressivos a tentarem um suicídio. A real preocupação é sobre como essa exposição pode impactar negativamente jovens que já estão psicologicamente instáveis, próximos de um limite," completou Hong.

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O novo estudo - o qual incluiu um questionário com 44 itens - também mostrou que a maioria dos adolescentes analisados que tinham visto a série o fizeram sozinhos e eram mais prováveis de discutirem suas reações com colegas da mesma idade (81%) do que com os pais (35%).

"Os dados da nossa amostra de adolescentes demonstrou que jovens expostos a um maior risco de suicídio não procuraram os adultos," Hong disse. "A maioria assiste à série sozinhos ou conversaram com amigos, mas eles não estavam falando com os pais, professores ou conselheiros escolares. Jovens que estão em grande necessidade do suporte de adultos podem ser aqueles menos prováveis de buscarem tal apoio."

Outro achado do estudo é que entre os adolescentes que disseram terem seus riscos de suicídio aumentados com a série, a maioria fortemente se identificou com a personagem feminina principal, Hannah Baker. Adolescentes com mais sintomas depressivos e maior idealização suicida eram os mais prováveis de se identificarem com essa personagem e reportarem impactos negativos enquanto assistiam à série.

"A personagem principal é facilmente identificável com vários adolescentes," disse Hong. "Ela é uma garota adolescente que sofreu de abusos sexuais, bullying e ansiedade - todos fatores que, infelizmente, impactam vários dos nossos jovens hoje."

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Os pesquisadores querem agora entender com mais precisão como esse tipo de mídia pode influenciar a saúde mental e os riscos de suicídio de diferentes tipos de espectadores. Por enquanto, os especialistas urgem que os pais estejam mais alertas para esse problema.

"Pais cujos filhos podem estar vulneráveis ou sob alto risco de suicídio devem ficar mais atentos sobre o que seus filhos estão assistindo e se eles estão sendo expostos a conteúdos que possam engatilhar sintomas de risco," disse outra autora do estudo, Dra. Cheryl King, uma psicóloga especialista em adolescentes do Hospital C.S. Mott Children, da Universidade de Michigan. "Os pais também não devem ficar tímidos e se afastarem de conversas abertas, honestas e difíceis com seus filhos sobre esses tópicos."

A segunda temporada da série, a qual estreou em maio deste ano, abriu com um alerta pedindo para que os espectadores juvenis assistissem à série com um adulto responsável, frisando também a importância de se procurar ajuda. Porém, esse tipo de aviso pode não ter o mínimo de eficácia na prática. E a terceira temporada já foi anunciada.


Artigo recomendado e complementar: Mitos e esclarecimentos sobre o suicídio

Publicação do estudo: Psychiatric Services

(1) Referência adicional: MU