Uma mulher mestre ceramista quebrou o domínio masculino dessa atividade na Grécia Antiga

A arte e a perícia para a manufatura de potes e cerâmicas na Grécia Antiga foram sempre consideradas como sendo de exclusiva dominância dos homens. Agora, um novo estudo revelou a única mulher conhecida que foi uma habilidosa mestre ceramista na Antiguidade, há cerca de 3 mil anos. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo apresentaram a descoberta em uma recente conferência de Arqueologia em Creta, organizada pelo Centro de Estudos do Museu da Antiga Eleutherna e pela Universidade de Creta. Esse achado também sugere que as mulheres parecem ter possuído um papel nas antigas sociedades muito maior do que comumente imaginado.

O novo estudo foi baseado nas análises biomecânicas dos vestígios de esqueleto da mestre ceramista em questão. Tendo vivido cerca de 45-50 anos, ela foi enterrada na cidade de Eleutherna, nos declives do Monte Ida, o lendário local de nascimento de Zeus. Cerâmicas ornadas próximo do seu túmulo sugerem que ela viveu entre 900 a.C. e 650 a.C., após a queda das civilizações Minoanas e Micênicas (1) e junto à fase final do período conhecido como Idade Grega das Trevas (seguindo os efeitos negativos do colapso das grandes cidades e civilizações até reascendimento dos centro urbanos, trocas culturais e comércio).

(1) Quer conhecer quem eram os Micenas, imortalizados por Homero? Acesse o artigo: Micênicos e a Origem quase mítica dos Gregos 

Analisando minuciosamente os ossos desenterrados, os arqueólogos revelaram detalhes anatômicos muito curiosos: comparado com outras mulheres na área onde ela foi enterrada (Orthi Petra), sua constituição física mostrava ser bastante musculosa, especialmente no lado direito do seu corpo. Ela também tinha desgastado a cartilagem no joelho e nas articulações dos quadris, o que deve ter resultado em fortes dores ao se movimento no avançar da idade. E foram essas observações que ajudaram os pesquisadores a concluírem que ela era uma artesã ligada à atividade de manufatura de cerâmicas.

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Várias eram as hipóteses sobre o tipo de profissão da mulher a qual os ossos pertenciam. Nesse sentido, os pesquisadores primeiro fizeram simulações de várias profissões comumente associadas às mulheres naquela época, desde lavadora de roupas até atividades de colheita. Nada refletiu os desgastes ósseos e constituição física associados aos ossos encontrados. Então, os pesquisadores resolveram testar o artesanato de cerâmicas, algo até então pensado ser de exclusividade masculina na Antiguidade.

Para testar essa aparentemente improvável hipótese, os cientistas usaram como modelo uma real ceramista que coincidentemente morava próximo da região de Eleutherna, e que aceitou participar do estudo. Analisando seus músculos enquanto ela trabalhava, eles ficaram convencidos de que os padrões de atividade muscular e movimentação geral do corpo representavam uma perfeita correspondência com as consequências biomecânicas expressadas pelos ossos desenterrados. A constante flexão das pernas para operar as ferramentas de cerâmica levaria a um iminente desgaste nas articulações, e a inclinação repetidas vezes para um lado do barro em movimento giratório para modelar e esculpir teriam levado a um maior desenvolvimento da musculatura naquele lado do corpo. Para todos esses efeitos terem ficado nitidamente evidenciados nos ossos, isso significa que essa habitante da antiga Creta passou sua vida dedicando-se à manufatura de cerâmicas, tornando-a uma mestre artesã.

Aliás, a existência de mulheres mestres ceramistas na Grécia Antiga, em especial na ilha de Creta, pode explicar também a tradição persistente de ceramistas femininas em atividade até hoje nessa região.

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Referências: 
1. http://www.sciencemag.org/news/2018/09/master-female-artisan-broke-male-dominated-mold-ancient-greece
2. http://en.mae.com.gr/news.html