Descoberto crucial fóssil de transição evolucionária de uma tartaruga primitiva

Pesquisadores Norte-Americanos do Field Museum descobriram um importante fóssil de transição evolucionária de um réptil adquirindo as características de uma tartaruga como a conhecemos hoje (ordem Testudine). O fóssil, com 228 milhões de anos de idade, foi descrito recentemente em um estudo publicado na Nature, e está ajudando a resolver o complexo percurso evolucionário das tartarugas.

Vivendo no período do Triássico, na região hoje englobada pela China, essa primitiva tartaruga tinha mais de 1,8 metro de comprimento, um estranho corpo na forma de disco, uma longa cauda, boca sem dentes e a parte anterior das suas mandíbulas desenvolvida em uma espécie de bico. A espécie, nomeada Eorhynchochelys sinensis, provavelmente vivia em águas rasas e cavava na lama com seus fortes membros em busca de comida. Suas características anatômicas sugerem que essa espécie era semi-aquática.

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A nova espécie revelada possui características compartilhadas por outros dois gêneros de répteis ancestrais das tartarugas modernas - Odontochelys e Pappochelys. O gênero Odontochelys - com um único representante conhecido, a espécie O. semitestacea (~220 milhões de anos atrás), e definitivamente uma tartaruga primitiva - não possuía bico rígido - e, sim, dentes nas suas mandíbulas, enquanto as tartarugas modernas possuem um bico sem dentes - e uma carapaça incompleta, apenas com a porção inferior da armadura típica de uma tartaruga moderna, o plastrom. Já gênero Pappochelys - possuindo também um único representante, a espécie P. rosinae - data do Triássico Médio (~240 milhões de anos atrás) e é um réptil intermediário entre o gênero Eunotosaurus e o Odontochelys. O Pappochelys, embora anatomicamente bem distinto de uma real tartaruga, possuía uma formação óssea chamada de gastrália (conjunto de ossos similares às costelas cobrindo o abdômen) que era bem empacotada e ocasionalmente fusionada, formando uma estrutura parecida com o plastrom das tartarugas. E, finalmente, o Eorhynchochelys não possuía carapaça e nem plastrom, mas possuía um estranho bico duro bem similar àquele das tartarugas modernas.

O fato do gênero Eorhynchochelys ter desenvolvido um bico duro antes de outras tartarugas primitivas, como o Odontochelys, é uma clara evidência de uma evolução mosaico, onde traços anatômicos evoluíram de forma independente entre as espécies ancestrais e a diferentes taxas. As tartarugas modernas possuem tanto carapaça (superior e inferior, incluindo o plastrom) quanto um bico duro, mas o caminho evolucionário para chegar nesse estágio não seguiu uma linha única. Ao invés disso, algumas tartarugas primitivas e ancestrais desenvolveram carapaças parciais enquanto outras desenvolveram bicos, e, eventualmente, as mutações genéticas responsáveis por cada um desses traços foram expressas em um mesmo espécime, como ocorre no gênero Proganochelys.

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Além desse esclarecimento sobre o processo de evolução biológica das tartarugas, o novo fóssil de transição resolveu outro grande mistério evolutivo relativo a esses répteis: afinal, eles pertencem ao grupo Diapsida (o qual engloba lagartos e cobras, marcados por dois buracos em cada lado do crânio - fenestra temporal) ou ao grupo Anapsida, o qual compreende os répteis que não possuem esses buracos? Análises morfológicas anteriores de fósseis deixavam a questão em aberto, mas análises moleculares geravam fortes evidências de que as tartarugas eram diapsídeos. O novo fóssil descrito mostra sinais claros de que o gênero Eorhynchochelys possuía a fenestra temporal, batendo o martelo final neste debate que já dura décadas.

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Publicação do estudo: Nature

Referência adicional: Field Museum