Comer grilos e outros insetos comestíveis pode trazer benefícios à sua saúde
Um estudo publicado esta semana na Scientific Reports mostrou que o consumo de grilos pode trazer benefícios para o microbioma do intestino humano, auxiliando a reduzir inflamações no corpo. Esse achado é um incentivo a mais para que a população ocidental veja nesses animais uma importante opção alimentar, não algo 'asqueroso'.
Ao redor do mundo, mais de 2 bilhões de pessoas distribuídas em 130 países regularmente consomem insetos como complemento nutricional, os quais são uma rica fonte de vitaminas, minerais, lipídios saudáveis e, principalmente, proteínas. Apesar de existir um crescente interesse nesse tipo de alimento na Europa e nos EUA, o consumo de insetos é ainda somente aceito com naturalidade na parte oriental do mundo, por questões exclusivamente culturais. Muitos associam os insetos apenas com pragas e sensação de nojo, fomentados por fatores culturais e ilógicos. Quem degusta certos insetos comestíveis preparados de diferentes maneiras geralmente reportam um gosto normal de comida e muitas vezes bastante apetitoso. Aliás, são uma iguaria em várias partes do mundo.
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Nesse sentido, pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, liderados pela Dra. Valerie Stull, resolveram realizar o primeiro estudo clínico sobre os efeitos de uma alimentação insectívora no organismo humano. Para isso eles escolheram o grilo da espécie Gryllodes sigillatus - popular em muitos países asiáticos - como alimento de análise. Os grilos, como outros insetos, contêm fibras, especialmente a quitina (C8H13O5N)n) - polissacarídeo que constitui o exoesqueleto desses animais - que são diferentes das fibras encontradas em alimentos vegetais (celulose e outros poli/oligossacarídeos). As fibras, por sua vez, servem de alimento para as bactérias compondo nosso microbioma intestinal (1), com algumas delas promovendo o crescimento populacional de bactérias benéficas.
(1) Para saber mais, acesse: A importância das fibras para a microbiota intestinal
Para verificar se as fibras de insetos ajudam ou não o microbioma humano, os pesquisadores recrutaram 20 homens e mulheres saudáveis - com idades de 18 a 48 anos de idade - e os dividiram aleatoriamente em dois grupos: inicialmente, por duas semanas, um grupo continuaria comendo uma dieta ocidental normal mas controlada (incluindo vegetais e carnes) e o outro teria 25 gramas de pó de grilo embutidos no café da manhã. Em seguida, todos os participantes foram orientados a consumir uma dieta normal, para "lavar" o intestino da influência dos insetos (para quem os comeu), por mais duas semanas. Então, por fim, os grupos tiveram as dietas trocadas em relação ao primeiro acompanhamento, com aquele que não consumiu os insetos passando a ingerir as 25 gramas de grilo no café da manhã, por mais duas semanas.
No final, cada participante serviu como seu próprio controle, dentro de um crossover randomizado. Além disso, os pesquisadores também não sabiam quem estava comendo os insetos e quem não estava em um dado momento (duplo cego). Essas características fornecem ao estudo uma alta qualidade e resultados confiáveis, apesar do pequeno grupo de participantes.
Amostras de sangue e fezes foram coletadas dos participantes, e perguntas foram feitas sobre o estado gastrointestinal a cada um dos voluntários antes, durante e depois do acompanhamento clínico. O resultado das análises mostrou que os grilos foram bem tolerados e completamente não-tóxicos. Além disso, a ingestão desses insetos resultou no aumento em uma enzima metabólica associada com uma boa saúde do intestino e uma diminuição em uma proteína inflamatória no sangue chamada de TNF-alfa, algo que tem sido ligado a benefícios no corpo, como amenização da depressão e ajuda no combate ao câncer. Somando-se a isso, os pesquisadores notaram um marcante aumento na abundância de bactérias benéficas ao intestino, como a Bifidobaterium animalis (5,7 vezes mais dessas bactérias).
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O consumo de insetos não só fornece uma fonte rica e ambientalmente amigável de proteínas e outros nutrientes - criação muito menos custosa do que animais como vacas, galinhas, etc. e geradora de bem menos gases estufas - como também um alimento que parece proporcionar benefícios adicionais à saúde, como uma redução na inflamação sistêmica e melhor funcionamento intestinal. E em um período de rápido crescimento populacional e limitação de recursos, principalmente em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, os insetos podem se mostrar uma ótima alternativa de auxílio. Se há apenas algumas décadas comer Sushi no ocidente era visto como algo repulsivo em muitos países, para só depois essa percepção mudar completamente, o mesmo pode acontecer com os insetos comestíveis.
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Publicação do estudo: Nature
Referência adicional: WISC
Comer grilos e outros insetos comestíveis pode trazer benefícios à sua saúde
Reviewed by Saber Atualizado
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agosto 08, 2018
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