Cientistas revelam as modificações evolutivas que diferenciam o coelho selvagem do coelho doméstico
Um estudo publicado no periódico Proceeding of the National Academy of Sciences (1) e conduzido por um time de pesquisadores da Universidade de Uppsala, Suécia, revelou diferenças na estrutura cerebral entre coelhos selvagens e coelhos domésticos (espécie Oryctolagus cuniculus) que os tornam mais ou menos nervosos ao redor de humanos.
Em um estudo anterior, o mesmo time de pesquisadores tinha demonstrado que mudanças no fenótipo durante a domesticação dos coelhos evoluíram como resultado de uma seleção altamente poligenética, onde foi observado uma mudança na frequência de alelos em vários loci* ao invés de diferenças fixas em poucos loci de domesticação. Essas mudanças genéticas mostraram estar ligadas a funções neurais, sugerindo significativas alterações no cérebro. Porém, ainda tinha ficado a dúvida se tais mudanças realmente levaram a mudanças substanciais na arquitetura cerebral desses animais. Apesar dos coelhos domésticos serem cerca de 4 vezes mais massivos do que os selvagens, o cérebro de ambos possuem praticamente o mesmo volume.
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*Loci é o plural de locus, que por sua vez faz referência a um local no genoma.
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Para as análises cerebrais, os pesquisadores utilizaram um escaneamento por imagem de ressonância magnética (MRI) de alta-resolução no cérebro de oito coelhos domésticos e de oito coelhos selvagens. Comparando os resultados dos escaneamentos, foi encontrado que a amígdala, uma região do cérebro que processa medo e ansiedade, era 10% menor nos coelhos domesticados em relação aos seus parentes selvagens. Já nos coelhos selvagens, o córtex medial pré-frontal, o qual controla respostas para comportamento agressivo e medo, era 11% maior em comparação com os domésticos.
Além disso, foi revelado que os cérebros dos coelhos domesticados possui menor capacidade de processar informações relacionadas com as respostas 'lute-ou-fuja' devido a uma menor quantidade de massa branca (axônios e sinapses) em relação aos parentes selvagens. A massa branca ajuda a conectar as células nervosas através de fibras (axônios) e podem influenciar o processamento de informações no tecido cerebral. Ou seja, os coelhos selvagens, quando em perigo, conseguem gerar reflexos mais rápidos e aprender mais rapidamente o que temer ao ambiente à sua volta, algo essencial para a proteção contra predadores.
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Essas mudanças na estrutura cerebral dos coelhos domésticos reduzem emoções como medo e agressão, tornando-os mais dóceis e mais tolerantes à presença humana. Os humanos modernos (Homo sapiens), ao longo da história, foram selecionando espécimes mais mansos dentro de populações selvagens, cruzando esses indivíduos selecionados para a obtenção de novas gerações cada vez mais fáceis de serem adestradas ou controladas. As populações selvagens não experienciam pressão seletiva sobre genes que expressam tais características, já que precisam estar com os sentidos e emoções a pleno vapor para escaparem de predadores e outros perigos no ambiente selvagem.
O processo evolutivo de domesticação via interferência humana ocorreu com os cães, cabras, gatos, entre diversos outros animais de criação. Os resultados do novo estudo trazem importantes informações para os cientistas entenderem melhor esse processo.
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Publicação do estudo: PNAS
Cientistas revelam as modificações evolutivas que diferenciam o coelho selvagem do coelho doméstico
Reviewed by Saber Atualizado
on
julho 17, 2018
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