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A ciência está perdendo fósseis porque indivíduos ricos estão os comprando para enfeite



Nesta semana, o valioso fóssil de um dinossauro carnívoro encontrado nos EUA foi vendido para um comprador privado por US$2,36 milhões. A compra ocorreu em um leilão em Paris na última quarta-feria. dia 4 de junho. Infelizmente, os museus não tinham dinheiro suficiente para bater os lances.

O apelo da comunidade científica não adiantou. Paleontólogos do mundo inteiro alertaram que o espécime fóssil poderia ser perdido para a ciência se caíssem em mãos privadas fora do meio acadêmico, e o pior: o espécime parece representar uma nova espécie de dinossauro nunca antes descrita e em excelente estado de conservação.


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Apesar dos paleontólogos afirmarem que estudos mais detalhados são necessários para confirmar se o espécime pertence realmente a uma nova espécie, todos eles concordam que o fóssil - escavado em um propriedade privada em Wyoming entre 2013 e 2015 - parece ser "anormal" e, portanto, cientificamente significante e precioso em termos de exploração acadêmica. Mas, agora, essa possibilidade é incerta.

Geralmente, quando o fóssil vai para um museu, ele fica totalmente aberto para análises científicas. Porém, nos últimos anos, a crescente venda privada de fósseis vêm preocupando os pesquisadores. Esse comércio, o qual frequentemente envolve enormes somas de dinheiro, está levando os preços dos fósseis a subirem cada vez mais, colocando espécimes potencialmente valiosos além do alcance do limitado poder financeiro dos museus e instituições públicas.

A Sociedade de Paleontologia dos Vertebrados (SVP, na sigla em inglês), em Bethesda, Maryland, a qual representa mais de 2200 paleontólogos a nível internacional, tinha escrito uma carta implorando para que o último leilão fosse cancelado, citando que "...espécimes fósseis que são vendidos para mãos privadas são perdidos para a ciência." Isso sem contar que a conservação dos fósseis fica também comprometida longe de centros especializados.

Os organizadores do leilão - o qual ocorreu na casa Aguttes - responderam à carta dizendo que torciam para que o fóssil fosse parar nas mãos de um museu, mas que, em qualquer que fosse o cenário, a "venda é honesta, pública, legal e documentada". Além disso, adicionaram que "desde o século XIX, o mercado de fósseis é organizado e animado por companhias privadas e compradores privados, não apenas por museus."

Porém, os cientistas realçam que esses leilões parecem estar refletindo um contínuo e profundo aumento nas vendas privadas de fósseis, frequentemente obtidos legalmente, o que pode levar ao aumento absurdo dos lances ofertados.

A cidade de Paris já hospedou numerosos leilões nos últimos anos. Em abril, a casa Binoche et Giquello arrecadou mais de 1,4 milhões de euros pelos fósseis de um Allosaurus e de um Diplodocus, além do leilão do crânio de um Triceratops em 2017. Já a casa Aguttes vendeu um Allosaurus por mais de 1,1 milhão de euros em 2016, e um mamute Siberiano  por 548 mil euros em 2017. Em outros lugares ao redor do mundo, como Hong Kong, são várias os leilões de fósseis que arrecadam valores superiores a 2 milhões de dólares.

Essas milionárias vendas estão ficando cada vez mais comuns e dificultando o trabalho dos cientistas. Como todos sabem, a ciência não é um setor que, no geral, recebe muito investimento financeiro, especialmente em áreas que não possuem aplicações imediatas para a geração de lucro no mercado, como paleontologia e astronomia. Nesse sentido, gastar centenas de milhões na compra de vários fósseis não é uma opção para os centros acadêmicos.


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Segundo Paul Barret, um paleontólogo no Museu de História Natural em Londres, com os museus comprando cada vez menos fósseis - por causa do apertado orçamento e ao fato de que vários museus bem estabelecidos já possuem grandes coleções -, colecionadores podem agora estar visando compradores privados. E muitas companhias e indivíduos ricos já mostraram grande interesse nesse comércio.

Fósseis de dinossauro vendidos em leilões têm sido escavados, na sua maioria, de terras privadas nos EUA, país onde é possível obter os esqueletos fossilizados para se vender legalmente e de forma regular. Em outros lugares, como no Reino Unido, é até possível tal processo em algumas regiões, mas geralmente os fósseis descobertos estão quase sempre muito incompletos, pelo menos em relação aos dinossauros. Em muitos outros países onde fósseis completos podem ser frequentemente encontrados, como na China, na Mongólia e na Argentina, existem leis proibindo a exportação desses esqueletos. Nessa situação, outro problema que surge é a exploração ilegal de fósseis no território Norte-Americano - como de parques e reservas nacionais - para suprir a demanda das casas de leilões, o que pode comprometer ainda mais as investigações científicas.

Alguns especialistas sugerem que fundos filantrópicos são necessários para cobrir a despesa das compras por instituições científicas, ou que legislações ou regulações nos EUA, por exemplo, sejam feitas para assegurar que espécimes de suma importância para a ciência tenham como destino certo as coleções públicas.

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Referências:
1. https://www.nature.com/articles/d41586-018-05299-3
2. http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-3057396/For-sale-world-s-largest-dinosaur-skull-9ft-long-intact-Triceratops-fossil-set-reach-1-8-million-auction.html

A ciência está perdendo fósseis porque indivíduos ricos estão os comprando para enfeite A ciência está perdendo fósseis porque indivíduos ricos estão os comprando para enfeite Reviewed by Saber Atualizado on junho 07, 2018 Rating: 5

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