Fungo toma controle das formigas ao sequestrar seus corpos, não o cérebro
O famoso e sinistro fungo que cresce por cima da cabeça de formigas-carpinteiras não ganha controle desses insetos pelo cérebro mas, sim, através dos seus músculos, segundo estudo publicado esta semana na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Esse fungo (da espécie Ophiocordyceps unilateralis) transforma seu hospedeiro - a formiga-carpinteira (Camponotus castaneus), por exemplo - em um verdadeiro zumbi. Basicamente, o fungo, na forma de células individuais, invade o sistema circulatório da formiga e inicia seu crescimento durante um período de 16 a 25 dias, levando a um grande agregado celular. O complexo fungo agora consegue induzir a formiga a ir a um ponto bem alto em uma planta e a força a fincar suas mandíbulas permanentemente em uma folha ou outro tecido do vegetal - de cabeça para baixo -, deixando-a ali por um bom tempo, no qual o fungo aproveita para se desenvolver, crescer por cima da cabeça desse inseto a partir de dentro do seu corpo e espalhar seus esporos, dando início a novos ciclos de zumbificação.
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Por um bom tempo se imaginava que a fase principal do ataque parasita (fixação das mandíbulas na planta) era feito através de controle principalmente do cérebro da formiga pelo fungo, através da produção de substâncias que estariam interferindo com o sistema nervoso e muscular.
Usando técnicas de microscopia e reconstrução 3D do parasita e do hospedeiro, os pesquisadores concluíram que o fungo - no caso estudado, a subespécie Ophiocordyceps unilateralis sensu lato - invade as fibras musculares ao longo do corpo da formiga, mas deixando o cérebro dessa última intacto, ou seja, é um ataque de coordenação periférica. Nenhum conjunto de células coordenadas do fungo foi encontrado no tecido cerebral. Aliás, todo o corpo do inseto estava infectado com as células do fungo, exceto o tecido cerebral. As conexões formadas pelas células do fungo nessa invasão mostraram-se extensivas e similares às estruturas que transportam nutrientes e organelas em várias associações 'fungo-planta'. Isso pode significar que, além do controle corporal, o fungo pode estar se aproveitando dessa rede para melhor se alimentar.
Indo para um local bem alto facilita a dispersão dos esporos do fungo e infecção de outras formigas, dando prosseguimento ao ciclo de vida desse parasita |
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É válido também destacar que esse sinistro método de manipulação não é exclusivo do gênero Ophiocordyceps. Parasitas de outros dois grupos filogenéticos distantes também evoluíram esse comportamento de forma convergente, em relação à capacidade de dominar formigas e obrigá-las a alcançar um ponto mais alto para uma otimizada dispersão reprodutiva. Nesse caso, temos o fungo Pandora formicae e o verme Dicrocoelium dendriticum.
Publicação do estudo: PNAS
Referência adicional: PLOS One
Fungo toma controle das formigas ao sequestrar seus corpos, não o cérebro
Reviewed by Saber Atualizado
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novembro 25, 2017
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