Benefícios à saúde do consumo alcoólico moderado? Talvez não

Grande parte das pessoas acreditam que o consumo moderado de bebidas alcoólicas - como uma taça diária de vinho - faz bem à saúde, por ser um fator a mais de proteção cardíaca. Mas segundo um artigo de meta-análise publicado nesta semana no periódico Journal of Studies on Alcohol and Drugs, tal pressuposto encontra pouco suporte na literatura científica.

Ao longo dos anos, vários estudos encontraram que adultos que bebem moderadamente possuem uma menor incidência de problemas cardíacos do que aqueles que não bebem. Com isso, fomentou-se a ideia que o consumo alcoólico em doses moderadas é bom para a saúde cardíaca. Porém, apesar dos resultados desses estudos serem reais, pode existir uma falha na análise dos dados por trás dos mesmos.

O principal problema denunciado pela nova meta-análise é que o grupo daqueles que não bebem acaba englobando tanto as pessoas que nunca beberam quanto aquelas que pararam de beber. Nesse sentido, podemos tomar como exemplo os indivíduos mais velhos, onde os problemas cardíacos são mais comuns. Aqueles que não estão saudáveis tendem a abandonar a bebida ou reduzir bastante seu consumo por temer pela saúde. Já aqueles bem saudáveis tendem a continuar bebendo. Em outras palavras, não é a bebida tornando a pessoa mais saudável e, sim, o fato dela ser saudável que incentiva o consumo alcoólico.

Um segundo estudo também publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs reforça essa análise. Seguindo mais de 9,1 mil adultos no Reino Unido, entre as idades de 23 e 55 anos, os pesquisadores responsáveis encontraram que os hábitos de consumo alcoólico evoluíam bastante com o passar do tempo. Quase todas as pessoas que não bebiam álcool na idade de 55 anos tinham desistido do hábito, ou seja, bebiam antes e pararam. Além disso, os indivíduos entre 20 e 30 anos que não bebiam tendiam a ter uma saúde mais debilitada independentemente do consumo alcoólico, indicando que não bebiam por temer piorá-la ainda mais.

Apesar da meta-análise não ser conclusiva, é bastante provável que o consumo alcoólico, no geral, não é uma causa da boa saúde e, sim, sua consequência.

É importante deixar essa questão esclarecida porque algumas pessoas gostam de justificar o seu consumo alcoólico com o suposto benefício à saúdo do hábito, sendo que, na verdade, elas podem estar apenas adicionando um fator de danos no corpo (1) e facilitando o desenvolvimento de um vício caso exista propensão para o mesmo. O alerta médico ganha ainda mais força: nunca comece a beber apenas para ganhar supostos benefícios à saúde.

No mundo todo, as mortes por problemas cardíacos lideram as taxas de mortalidade, respondendo por mais de 7 milhões de óbitos anuais (13,3% do total). Diversos são os fatores de risco, como o sedentarismo, idade, histórico familiar, má alimentação, fumo, hipertensão, obesidade, diabetes e o estresse. Investir em uma boa alimentação e praticar mais atividades físicas, por exemplo, serão medidas muito mais impactantes para prevenir problemas cardíacos do que qualquer falsa esperança nas bebidas alcoólicas.

(1) O consumo alcoólico é um dos principais fatores no aumento dos riscos de desenvolvimento de vários tipos de câncer. Infelizmente, poucos sabem disso. O artigo abaixo explora o assunto:

Bebidas alcoólicas e o câncer

E IMPORTANTE: Grávidas não devem consumir bebidas alcoólicas em nenhuma quantidade para não expor o feto aos riscos do etanol circulante na corrente sanguínea acima do normal. Para saber mais: Álcool e Gravidez: Nunca!

Publicação da meta-análise: JSAD

Referência adicional: EurekaAlert