Estudo mostra que os lêmures são esquisitos porque as frutas de Madagascar são "esquisitas"

Lêmures (família Lemuridae) são primatas, mas muito diferentes de qualquer outro primata na Terra, incluindo nós. Encontrados apenas na ilha de Madagascar, na costa da África, esses animais secretam uma fedorenta pasta dos seus ombros e a usa com a ajuda da cauda contra seus rivais; alguns se tornam inativos ou hibernam quando a comida está escassa, e outras espécies comem dia e noite sem parar; e, enquanto a maioria dos primatas se alimentam de uma dieta muito rica em frutas, os lêmures comem primariamente folhas.

Agora, um estudo publicado na Scientific Reports provavelmente esclarece o porquê dos lêmures não comerem tantas frutas como seus outros parentes primatas e porque eles desenvolveram esses hábitos alimentares tão estranhos. Basicamente, os pesquisadores encontraram que as frutas em Madagascar contêm muito pouca proteína para sustentar esses animais.

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As proteínas encontradas nos alimentos fornecem aminoácidos essenciais para a construção do nosso corpo, sendo peças mais do que cruciais para a vida. Portanto, os seres vivos que não conseguem sintetizar todos os aminoácidos de que precisam necessitam adquiri-los consumindo outros seres vivos ou partes de seres vivos (como folhas e frutas).

Nisso, pesquisadores resolveram analisar as quantidades de nitrogênio (elemento principal de distinção dos aminoácidos entre outros nutrientes) nas frutas de 62 florestas na África, Ásia e nas Américas geralmente consumidas por primatas. O resultado foi que nas Américas as frutas tinham grandes quantidades de nitrogênio, enquanto na Ásia e na África as quantidades eram menores. Em Madagascar as frutas tinham as menores quantidades. De fato, nas Américas, os primatas (e outros mamíferos e pássaros) comem muito mais frutas do que em outras partes do mundo (apesar de poder existir outros fatores que atuaram na evolução desse hábito alimentar nessas regiões).

Portanto, essas diferenças nutricionais nas frutas provavelmente foi o fator mais importante atuando na evolução comportamental dos lêmures. Considerando que esses animais não conseguem proteínas o suficiente das frutas de Madagascar, eles acabaram desenvolvendo outros meios de se sustentarem: comendo mais folhas, hibernando para conservar energia, e comendo o dia inteiro para conseguirem as quantidades de nutrientes de que precisam.

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A nova descoberta também é importante para a melhor implementação de medidas de proteção e programas de recuperação visando os lêmures, estes os quais são o grupo de mamíferos mais ameaçados de conservação do planeta por causa da perda de habitat e do desflorestamento oriundos das atividades humanas.

*Na imagem acima, temos a espécie Microcebus tanosi.

Publicação do estudo:  Nature