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Apenas ficar mais tempo em pé pode não reduzir os danos à saúde causados pelo sedentarismo, aponta estudo

- Atualizado no dia 25 de novembro de 2024 -


Ficar mais de pé em atividades diárias e no trabalho é um hábito que tem ganhado popularidade entre várias pessoas buscando reduzir os prejuízos associados a um estilo de vida sedentário. Esse sedentarismo frequentemente é devido a longos períodos de tempo gastos por pessoas sentadas na frente de computadores, televisão ou durante a condução de veículos. Nesse sentido, por exemplo, entre funcionários de escritório, mesas para trabalhar em pé têm se tornado uma opção cada vez mais popular.


No entanto, esse novo hábito pode não produzir os resultados esperados. Um estudo publicado no periódico International Journal of Epidemiology (Ref.1) apontou que, a longo prazo, ficar mais de pé [estacionário] comparado com a posição sentada não melhora a saúde cardiovascular - em termos de redução de risco para doença coronária cardíaca, derrame e falha cardíaca - e pode inclusive aumentar o risco de doenças circulatórias, como varicose e trombose de veias profundas. 


Além disso, o estudo encontrou que ficar sentado por mais de 10 horas por dia aumenta tanto o risco de doença cardiovascular quanto de hipotensão ortostática (quando a pressão arterial cai excessivamente quando a pessoa levanta de uma posição sentada ou deitada) (1).


"O principal achado é que ficar em pé por muito tempo não reduzirá os prejuízos causados por um estilo de vida sedentário e pode ser um fator de risco para algumas pessoas em termos de saúde circulatória," disse em entrevista o Dr. Matthew Ahmadi, autor principal do novo estudo (Ref.2).


Mas enquanto os pesquisadores não encontraram benefícios à saúde com o simples ato de ficar mais tempo parado em pé do que sentado, eles alertaram contra ficar sentado por períodos estendidos de tempo, recomendando que as pessoas regularmente sedentárias ou que ficam muito tempo em pé realizem movimentos físicos regulares ao longo do dia que quebrem a postura estática. Isso reforça também a necessidade de maior nível de atividade física ambulatória ou dinâmica (ex.: corrida, andar, musculação, agachamentos, etc.) ao longo do dia para o público em geral.


"Para pessoas que habitualmente ficam sentadas por longos períodos, incluir suficiente quantidade de movimentos incidentais ao longo do dia e exercícios estruturados pode ser um modo melhor para reduzir o risco de doença cardiovascular," disse o pesquisador Emmanuel Stamatakis e coautor do novo estudo (Ref.2). "Faça pausas regulares no trabalho e na condução de veículos, ande ao redor, vá andando a um encontro próximo, use as escadas, ou use o horário do almoço para ficar longe da escrivaninha e realizar movimentos físicos."


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Pessoas têm gasto cada vez mais tempo sedentário e realizando cada vez menos atividades físicas ao redor do mundo. No ambiente de trabalho e em momentos de lazer, tempo cada vez maior é investido na frente de computadores, televisão e outras telas de dispositivos eletrônicos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reportou recentemente que 31% das pessoas que possuem 15 anos ou mais de idade estão realizando menos do que 2,5 horas por semana de atividade física moderada e que ~3,2 milhões de mortes por ano estão associadas com esse estilo sedentário de vida (Ref.3). Baixa atividade física e alto nível de sedentarismo são um importante fator de risco para doenças cardiometabólicas, incluindo hipertensão (2). Comportamento sedentário prolongado é também um fator de risco para o desenvolvimento de múltiplos cânceres (Ref.4).


Um recente estudo de meta-análise publicado no periódico Diabetologia (Ref.5) encontrou uma associação adversa de tempo gasto sentado aumentando linearmente a partir de >10 horas/dia, e com >12 horas/dia associado com saúde cardiometabólica desfavorável. Nesse mesmo estudo, os pesquisadores encontraram que gastar >90 minutos/dia andando ou 3-8 minutos/dia subindo escada elimina as associações adversas do tempo gasto sentado. É também um consenso que maior tempo gasto realizando atividades físicas moderadas a vigorosas é a melhor estratégia para melhorar a saúde cardiometabólica e reduzir os danos causados por comportamentos sedentários.


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> Especialistas também alertam para exageros em ambos os sentidos. Por exemplo, realizar atividades físicas moderadas a vigorosas de forma excessiva pode ser também deletério à saúde (ex.: lesões de sobrecarga). Descanso no período despertado não deve ser encarado como algo sempre ruim ou indesejável. Ref.6

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E quanto ao simples ato de "ficar de pé"? É melhor do que ficar sentado em termos de dose-equivalência? Intercalar ou substituir a posição sentada pela posição ereta imóvel é uma válida estratégia de redução de dano?


Sentar e ficar de pé são posturas coletivamente chamadas de "comportamento estacionário", ou seja, sem movimento ambulatório e envolvendo baixo custo de energia. Ambos as posturas têm atraído interesse como fatores de risco para doenças cardiovasculares e mortalidade prematura. Embora existe robusta evidência alertando sobre os efeitos adversos da postura sentada por tempo prolongado, estudos são limitados, escassos e/ou conflitantes sobre a postura de pé.


Importante, um número de estudos têm demonstrado uma relação entre ficar de pé por tempo prolongado no trabalho e vários problemas cardiovasculares assim como outros problemas de saúde (ex.: dores musculoesqueléticas). Os potenciais mecanismos ligando problemas cardiovasculares ou circulatórias e postura ereta prolongada e estática inclui acúmulo de sangue nos membros inferiores, aumento da pressão venosa hidrostática e aumento do estresse oxidativo.


Existe, de fato, forte argumento contra classificar uma posição ereta passiva como uma atividade física de baixa intensidade, devido ao gasto energético muito baixo envolvido (Ref.7). Aliás, um estudo prospectivo publicado em 2017 acompanhou por 12 anos 7320 empregados (50% do sexo masculino) em Ontário, Canadá, trabalhando pelo menos 15 horas por semana e livres de doenças cardíacas no início do acompanhamento. Após ajuste para várias covariáveis relevantes, os autores desse estudo encontraram que ocupações envolvendo predominantemente "ficar de pé" estavam associadas com um risco quase 2x maior de doença cardíaca quando comparado com ocupações envolvendo predominantemente "ficar sentado". Apesar das limitações do estudo que não devem ser ignoradas (ex.: natureza observacional), o notável achado contradiz a ideia de que ficar de pé, por si só, é distinto de um comportamento sedentário ou melhor do que ficar sentado.


Mesmo caminhada leve interrompendo - com suficiente frequência - períodos prolongados na posição sentada pode ser uma opção significativamente melhor do que simplesmente ficar em pé parado de forma contínua ou intermitente (Ref.8)


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No novo estudo, pesquisadores analisaram prospectivamente mais de 83 mil adultos no Reino Unido, acompanhados ao longo de um período de 7 a 8 anos com o auxílio de acelerômetros. Os participantes não possuíam doença cardíaca no início do acompanhamento, e o estudo analisou os impactos cardiovasculares e circulatórios de comportamentos estacionários prolongados. Covariáveis levadas em conta na análise incluíram índice de massa corporal (IMC), idade, sexo, status de fumo, consumo alcoólico, hábitos alimentares, nível educacional e histórico familiar de doenças cardiovasculares.


Durante o período de acompanhamento, 6829 eventos de doenças cardiovasculares de interesse (doença cardíaca coronária, falha cardíaca e derrame) e 2042 doenças circulatórias ortostáticas de interesse (hipotensão ortostática, varicose, insuficiência venosa crônica e úlceras venosas) ocorreram. 


Quando tempo estacionário excedia 12 horas/dia, risco de doença ortostática circulatória mostrou aumentar em uma média de 22% por hora. Cada hora adicional sentado acima de 10 horas/dia estava associada com um risco 26% maior. Ficar de pé por mais de 2 horas/dia estava associado com um risco 11% maior para cada 30 minutos/dia adicional. 


Para as doenças cardiovasculares analisadas, quando tempo estacionário excedia 12 horas/dia, o risco aumentava por uma média de 13% por hora. Tempo sentado estava associado com um risco 15% maior para cada hora extra. Tempo gasto em pé não mostrou estar associado com risco de doença cardiovascular.


Os resultados sugerem que apenas ficar mais tempo em pé pode não ser uma estratégia suficiente para reduzir o risco de doenças cardiovasculares (ausência de efeito protetor), e pode levar a um maior risco para condições circulatórias deletérias (!). 


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(!)  Um estudo Finlandês mais recente apontou que período prolongado em pé no trabalho resulta também em impacto negativo na pressão sanguínea. No contexto de comportamento sedentário, ficar mais tempo sentado mostrou estar associado com melhor pressão sanguínea. Os autores do estudo reforçaram a importância de um maior nível de atividade física no ambiente de trabalho. Ref.9


> Exercícios físicos estão positivamente relacionados com melhor pressão arterial. Para mais informações: Qual a relação entre sal, sódio, potássio e hipertensão?

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A falta de movimento muscular durante tempo estacionário - sentado ou em pé - pode resultar em um retorno reduzido de sangue venoso por contração do músculo esquelético (bombeamento) e contribuir para o acúmulo de sangue venoso nos membros inferiores (3), causando problemas circulatórios. Movimento ambulatório (andar, corrida, ciclismo ou outros movimentos com significativo grau de movimento) é importante para reduzir o risco de doença circulatória, reforçando a recomendação de "mova mais" ao invés de "sente menos". 


Leitura complementar:


REFERÊNCIAS

  1. Ahmadi et al. (2024). Device-measured stationary behaviour and cardiovascular and orthostatic circulatory disease incidence, International Journal of Epidemiology, Volume 53, Issue 6, dyae136. https://doi.org/10.1093/ije/dyae136
  2. https://www.sydney.edu.au/news-opinion/news/2024/10/17/standing-more-may-not-reduce-cardiovascular-disease-risk--could-.html
  3. Arippa et al. (2023). Movement Behavior and Health Outcomes among Sedentary Adults: A Cross-Sectional Study. International Journal of Environmental Research and Public Health 20(5), 4668. https://doi.org/10.3390/ijerph20054668
  4. Ma et al. (2024). Effects of a Workplace Sit–Stand Desk Intervention on Health and Productivity. International Journal of Environmental Research and Public Health 18(21), 11604. https://doi.org/10.3390/ijerph182111604
  5. Ahmadi et al. (2024). Relationship of device measured physical activity type and posture with cardiometabolic health markers: pooled dose–response associations from the Prospective Physical Activity, Sitting and Sleep Consortium. Diabetologia 67, 1051–1065. https://doi.org/10.1007/s00125-024-06090-y
  6. Straker et al. (2024). "What’s Your Poison? Is Sitting Always Health Hindering and Moving Always Health Promoting?" Human Kinetics Journals, Volume 21 Issue 9, 845-846. https://doi.org/10.1123/jpah.2024-0324
  7. ProPASS Collaboration (2023). Device-measured physical activity and cardiometabolic health: the Prospective Physical Activity, Sitting, and Sleep (ProPASS) consortium, European Heart Journal, Volume 45, Issue 6, Pages 458–471. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehad717
  8. Buffey et al. (2022). The Acute Effects of Interrupting Prolonged Sitting Time in Adults with Standing and Light-Intensity Walking on Biomarkers of Cardiometabolic Health in Adults: A Systematic Review and Meta-analysis. Sports Med 52, 1765–1787. https://doi.org/10.1007/s40279-022-01649-4
  9. Jooa et al. (2024). Associations between Leisure and Work Time Activity Behavior and 24 H Ambulatory Blood Pressure among Aging Workers. Medicine & Science in Sports & Exercise, 10.1249. https://doi.org/10.1249/MSS.0000000000003594

Apenas ficar mais tempo em pé pode não reduzir os danos à saúde causados pelo sedentarismo, aponta estudo Apenas ficar mais tempo em pé pode não reduzir os danos à saúde causados pelo sedentarismo, aponta estudo Reviewed by Saber Atualizado on outubro 24, 2024 Rating: 5

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