Homens atrás do volante: Três vezes mais violações e acidentes de trânsito do que mulheres, revela estudo
Segundo resultados de um estudo publicado no periódico Sociology of Power (Ref.1), homens são:
- três vezes mais prováveis do que mulheres de cometer violações de trânsito enquanto dirigem e de estarem envolvidos em acidentes veiculares;
- mais prováveis do que mulheres de criar situações em estradas que são altamente perigosas para outras pessoas;
- duas vezes mais prováveis do que mulheres de dirigirem sob influência de substâncias (ex.: álcool).
Existe um estereótipo de que mulheres são motoristas piores do que homens, com alegações comuns do tipo "mulheres são um perigo atrás do volante". Motoristas do sexo feminino em geral são percebidas de serem menos cuidadosas atrás do volante, mais facilmente estressadas, menos capazes de reagir a situações imprevistas e piores em navegação espacial. De acordo com esse estereótipo, é geralmente assumido que mulheres são mais prováveis de causar acidentes nas estradas.
No novo estudo, pesquisadores da Escola Superior de Economia da Universidade Nacional de Pesquisa (HSE University) - uma universidade pública de pesquisa sediada em Moscou, Rússia - revisaram 158 mil decisões judiciais publicadas de 2010 até 2022 sob o Artigo 264 do Código Criminal Russo. Eles encontraram que quase 92% de todos os casos envolviam motoristas homens. Após normalização e cálculo da frequência de acidentes considerando a diferença no número de motoristas de cada gênero (68% homens e 22% mulheres), homens continuaram 3,25 vezes mais prováveis de estarem envolvidos em acidentes que levavam a casos criminais.
Os autores do estudo propuseram a hipótese que a diferença no comportamento de trânsito entre homens e mulheres é devido a atitudes variantes: homens tendem a dirigir mais rápido e mais agressivamente. Por exemplo, eles mostraram que homens dirigem, em média, 26% mais quilômetros por dia do que mulheres e gastando apenas 10% mais tempo atrás do volante. Além disso, homens mostraram ser mais prováveis de dirigir sob influência: nos casos criminais envolvendo motoristas homens, quase 25% estavam dirigindo alcoolizados; no caso das mulheres condenadas por ofensas no trânsito, apenas 10% estavam dirigindo alcoolizadas. Homens também mostraram ser significativamente mais prováveis de causar acidentes em estradas que resultaram em mortes ou lesões.
E mesmo após normalização por gênero, três quartos (75%) daqueles acusados com ofensas de trânsito envolvendo significativo perigo público eram homens.
Juízes, por sua vez, mostraram ser mais prováveis de dar aos homens uma sentença mais séria em acidentes ou ofensas que não envolviam séria periculosidade. Em quase dois terços (~66%) dos casos, homens eram sentenciados à prisão, onde mulheres receberam uma sentença de prisão em apenas 50% dos casos.
Segundo os pesquisadores, essas diferenças podem ser parcialmente atribuídas a variações na socialização gênero-baseada, fatores socioeconômicos e diferenças culturais regionais. Em algumas regiões, como Primorye, Moscou, ou São Petersburgo, a diferença de gênero entre acidentes causados por homens e mulheres mostrou ser menor do que a média nacional. Em outras regiões, como Dagestan ou Chukotka, a diferença mostrou ser muito maior, variando de 6, 10 ou mesmo 20 vezes.
Em cidades grandes, mulheres são mais prováveis de dirigir, enquanto que em regiões no sul da Rússia, dirigir é predominantemente visto como uma atividade masculina. Essa variação regional sugere significativas diferenças nos estilos de direção ao longo do país, algo que pode estar ligado muito mais a fatores culturais e sociais locais do que a fatores biológicos (ex.: diferentes níveis de agressividade).
"O objetivo geral [do estudo] é assegurar que homens e mulheres tenham oportunidades e direitos iguais em educação, emprego e vida familiar," disse em entrevista Anton Kazum, um dos autores do estudo (Ref.2). "Ao mesmo tempo, pode ser assumido que ter motoristas mais cuidadosos e seguros nas estradas, como mulheres, pode melhorar os padrões de direção de uma forma geral e reduzir o número de acidentes. No entanto, esse processo é provável de levar tempo. É importante também considerar que medidas são necessárias ser tomadas para assegurar que homens dirijam com o mesmo nível de precaução das mulheres"
Os resultados do estudo Russo corroboram os resultados de um estudo de 2023 conduzido na Espanha (Ref.3), no sentido de também rejeitar a alegação de que "mulheres são motoristas piores do que homens" e mostrar que mulheres respeitam mais as leis de trânsito (uso de cinto de segurança, não ultrapassagem de limites de velocidade, evitar consumo alcoólico). Analisando ofensas de trânsito em bancos de dados policiais registrados no período de 2005 até 2019, e levando em consideração múltiplas co-variáveis, o estudo Espanhol mostrou que mulheres prestam mais atenção às regulações de trânsito e se comportam de forma mais cuidadosa e responsável nas estradas.
REFERÊNCIAS
- Belov & Kazun (2024). "Beware of His Car: Why Are Men More Dangerous than Women Behind the Wheel?" Sociology of Power, Vol. 36, No. 1. https://doi.org/10.22394/2074-0492-2024-2-142-163
- https://www.eurekalert.org/news-releases/1057956
- Castro-Nuño & Lopez-Valpuesta (2023). "Traffic compliance effect of more women behind the wheel: Pride or prejudice?" Women's Studies International Forum, Volume 98, 102727. https://doi.org/10.1016/j.wsif.2023.102727
Reviewed by Saber Atualizado
on
setembro 18, 2024
Rating:
