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Cientistas esclarecem como o maior primata conhecido foi extinto

Figura 1. Reconstrução artística do Gigantopithecus blacki, o maior primata conhecido. 


No sul da China pré-histórica, viveu o maior primata conhecido: um parente próximo dos orangotangos de 3 metros de comprimento e massa corporal de até 300 kg, pertencente à espécie Gigantopithecus blacki. Persistindo desde ~2 milhões de anos até o Pleistoceno Médio tardio, as causas para a extinção dessa espécie são enigmáticas, em especial considerando que foi uma das poucas espécies de hominídeos ["primatas superiores"] Asiáticos a serem extintas nos últimos 2,6 milhões de anos, enquanto outras, incluindo os orangotangos (gênero Pongo), persistem até hoje. Aliás, foram extintos antes mesmo de humanos arcaicos e modernos alcançarem a região onde habitavam. Um estudo publicado esta semana no periódico Nature (Ref.1) trouxe robusta evidência que pode ter solucionado o mistério: o G. blacki foi extinto porque passou a não ser mais capaz de alcançar frutas e outros alimentos mais nutritivos, em um contexto de mudanças ambientais.


"A história do G. blacki é um enigma na paleontologia - como uma criatura tão poderosa acabou extinta em uma época quando outros primatas estavam se adaptando e sobrevivendo? A causa não resolvida do seu desaparecimento se tornou o Santo Graal nessa disciplina," disse em entrevista o paleontólogo e coautor do novo estudo, Dr. Yingqi Zhang, do Instituto de Paleontologia Vertebrada e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciência (Ref.2). "O G. blacki foi o último especialista, comparado aos primatas que mais rapidamente se adaptaram, como orangotangos, e isso ultimamente levou à sua extinção."


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Existem aproximadamente 2 mil dentes fossilizados e 4 mandíbulas como únicos sinais da existência do G. blacki, coletados de depósitos em cavernas entre o Rio Yangtze e o Mar do Sul da China. Fósseis de partes do esqueleto pós-craniano não são conhecidos. Essa espécie é considerada um membro crucial das zonas de fana da Ásia Oriental subtropical no período compreendendo entre 2 milhões de anos até 330 mil anos atrás, e é caracterizada pelos seus anormalmente grandes molares, atípica espessura no esmalte dentário, altura estimada de ~3 metros e uma massa corporal na faixa de 200-300 kg, tornando-o maior primata conhecido que já existiu na Terra. 


Figura 2. Mandíbula fossilizada de um Gigantopithecus blacki (P1-M2=74mm). O primeiro fóssil da espécie foi identificado pela comunidade científica quando o antropólogo Gustav von Koenigswald viu um dente de G. blacki sendo vendido como um "dente de dragão" em uma loja de medicina tradicional, em Hong Kong. Ref.3


Figura 3. Interpretação artística do Gigantopithecus blacki adulto. Inicialmente era pensado que esse primata gigante era similar a um gorila, mas análise proteômica de amostras dentárias mostrou que o G. blacki era mais próximo relacionado aos orangotangos, especificamente um clado irmão do gênero Pongo. É estimado que as linhagens dos orangotangos e do G. blacki se separaram no percurso evolucionário entre 10 milhões e 12 milhões de anos atrás. Ref.4

Figura 4. Comparação dimensional entre o Gigantopithecus blacki e diferentes primatas hominídeos modernos. Ref.2

A atual linha do tempo de existência do G. blacki é de 2,2 milhões de anos atrás (Caverna de Baikong) até 420-330 mil anos atrás (Caverna de Hejiang). Durante esse período, o G. blacki passou por significativas mudanças morfológicas, incluindo um aumento no tamanho dos dentes e da complexidade dentária, e indicando uma mudança na dieta em resposta a pressões ecológicas. Reconstruções da dieta dessa espécie com base na anatomia dentária indicam um herbívoro especializado com adaptações para o consumo de alimento abrasivo (itens muito duros e fibrosos), pesada mastigação de alimento fibroso e uma dieta rica em frutas. 


O ecossistema florestal diverso na época de "Baikong" tinha a capacidade para suportar a biomassa de várias comunidades de primatas ao longo de uma ampla área das Províncias de Guangxi, Guizhou, Hainan e Hubei. No entanto, na época de "Hejiang", o G. blacki exibiu uma dramática redução de ocupação geográfica, se limitando apenas à região de Guangxi. As razões para essa dramática redução e eventual extinção têm permanecido pouco esclarecidas e muito disputadas no meio acadêmico devido a dados limitados sobre a espécie e o período exato de extinção.


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No novo estudo, os pesquisadores usaram seis diferentes técnicas de datação que foram aplicadas em sedimentos de cavernas e fósseis, produzindo 157 idades radiométricas. Essas idades foram combinadas com oito fontes de evidências ambientais e comportamentais, e aplicadas a 11 cavernas contendo evidência do G. blacki e também a 11 cavernas de uma faixa similar de idade onde nenhum evidência da espécie foi encontrada. Datação óptica foi a técnica primária utilizada, suportada por série de urânio (datação radioativa) e ressonância de spin eletrônico (!).


(!) Para mais informações sobre essas técnicas: 


Usando detalhada análise de pólen, reconstruções de fauna, análise de isótopos estáveis dos dentes e uma análise micro-detalhada dos sedimentos das cavernas, os pesquisadores estabeleceram as condições ambientais associadas ao período de extinção do G. blacki. Então, usando elementos traços e análise textural de micro-abrasões (DMTA) dos dentes dessa espécie, eles modelaram o comportamento do primata gigante enquanto estava no auge populacional comparado ao período de desaparecimento do táxon.


Os resultados das análises mostraram que o G. blacki foi extinto entre 295 mil e 215 mil anos atrás, muito mais cedo do que antes assumido. Antes desse período de dramático declínio populacional, o G. blacki floresceu em uma floresta rica e diversa, coabitada por uma ampla variedade de outras espécies, incluindo o Pongo weidenreichi - um ancestral dos atuais orangotangos. 


De 700 mil até 600 mil anos atrás, o ambiente associado ao habitat do G. blacki se tornou mais variável devido ao aumento na força das estações, causando uma mudança na estrutura das comunidades florestais. Densas florestas se transformaram em florestas com samambaias e savanas abertas suscetíveis a incêndios. Orangotangos (gênero Pongo) adaptaram o tamanho corporal, comportamento e preferência de habitat à medida que as condições mudaram, e passaram a sobreviver nas coberturas das árvores onde existiam mais opções de alimentos. Em comparação, o G. blacki acabou ficando dependente de recursos alimentares menos nutritivos quando seus alimentos preferenciais se tornaram indisponíveis, reduzindo a diversidade da sua dieta. Ao invés de reduzir o tamanho corporal, o G. blacki ficou ainda maior, e confinado ao chão florestal, comendo cascas de árvores e outros alimentos pouco nutritivos em estações menos favoráveis. 


Nesse contexto de dramática mudança ambiental e adaptabilidade muito limitada, o G. blacki se tornou menos móvel, teve seu alcance geográfico para a busca de alimento reduzido, e passou a enfrentar estresse crônico e número populacional cada vez menor. Era o fim de um gigante.


REFERÊNCIAS

  1. Zhang et al. (2024). The demise of the giant ape Gigantopithecus blacki. Nature. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06900-0
  2. https://lighthouse.mq.edu.au/article/january-2024/dating-dirt-unearths-the-truth-about-why-the-worlds-biggest-ape-disappeared
  3. https://www.science.org/content/article/we-may-finally-know-why-world-s-largest-primate-went-extinct
  4. Welker et al. (2019). Enamel proteome shows that Gigantopithecus was an early diverging pongine. Nature 576, 262–265. https://doi.org/10.1038/s41586-019-1728-8

Cientistas esclarecem como o maior primata conhecido foi extinto Cientistas esclarecem como o maior primata conhecido foi extinto Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 14, 2024 Rating: 5

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