Potencial detecção de assinatura de vida em um planeta na constelação de Leão
Figura 1. Concepção artística do planeta K2-18b, orbitando uma anã vermelha. |
Em 2019, observações do Telescópio Espacial Hubble - que opera primariamente no espectro do visível - detectaram pela primeira vez vapor de água na atmosfera de um exoplaneta [fora do Sistema Solar] orbitando uma zona habitável ao redor de um estrela anã vermelha (Ref.1). O planeta em questão, K2-18b, está distante 120 anos-luz da Terra, na constelação de Leão (1), e a presença de água atmosférica indicava possíveis nuvens, chuvas e oceanos. Aliás, o K2-18b está a uma distância da sua estrela que permite a presença de água líquida, e possui um tamanho maior do que a Terra mas menor do que Netuno. A massa desse planeta é 8,6 vezes maior do que a massa terrestre.
(1) Leitura recomendada: A NASA mudou o Zodíaco?
Agora, observações em uma ampla faixa do infravermelho feitas através do Telescópio Espacial James Webb revelaram a presença de moléculas orgânicas na atmosfera de K2-18b, especificamente dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). A abundância dessas duas moléculas, e a escassez de amônia (NH3), suportam a hipótese de que existe um oceano de água líquida sob uma atmosfera fria e rica em hidrogênio molecular (H2) no planeta (Ref.2). E mais: os pesquisadores encontraram possível presença de sulfeto de dimetila (DMS) na atmosfera, uma potencial assinatura de vida. Os achados foram submetidos e aceitos para publicação no periódico The Astrophysical Journal Letters (Ref.2)
"Na Terra, DMS é produzido somente por vida," disse em entrevista à BBC o Dr. Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge e líder da pesquisa (Ref.3). "A maior parte dessa molécula na atmosfera terrestre é emitida a partir de fitoplâncton nos ambientes marinhos."
As observações e análises foram feitas a partir de espectros de transmissão no infravermelho próximo (faixa de 0,9-5,2 µm) obtidos pelas câmeras NIRISS e NIRSpc do James Webb (2). No caso, picos de absorção da luz emitida pela anã vermelha atravessando a atmosfera do K2-18b, durante trânsito desse último em frente à estrela. Enquanto que os sinais associados ao CO2 e CH4 são bem claros, a inferência de DMS é bem menos robusta e requer maior validação de novas observações para esclarecer se existe significativo nível dessa molécula na atmosfera do planeta - e potencial atividade biológica extraterrestre. Além do DMS, a presença de vida no K2-18b pode também explicar a grande quantidade relativa de CH4 na atmosfera do planeta (ex.: organismos produtores de metano equivalentes a bactérias metanogênicas nos oceanos terrestres).
É válido também apontar que enquanto o K2-18b está orbitando uma zona habitável e carrega moléculas orgânicas na sua atmosfera, isso não significa necessariamente que esse planeta possa suportar vida. O grande tamanho do planeta - com um raio 2,6 vezes maior do que o raio da Terra - significa que seu interior provavelmente contém um grande manto de gelo sob alta pressão, como Netuno, mas com uma atmosfera mais fina rica em hidrogênio e com uma superfície oceânica. Esse tipo de mundo é predito de ter oceanos de água, mas é possível que tais oceanos possam ser muito quentes para abrigar vida - apesar da temperatura de equilíbrio no K2-18b ser de ~250-300 K (até ~27°C). Na verdade, planetas sub-Netunianos como o K2-18b ainda são pouco entendidos, e bem distintos dos mundos constituintes do Sistema Solar. Por fim, devido ao alto nível de atividade da anã vermelha, o K2-18b pode ser mais hostil à vida como a conhecemos aqui na Terra, e provavelmente está exposto a mais radiação de alto nível energético.
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CURIOSIDADE: Nas altas nuvens de Vênus, existe suspeita de atividade biótica, talvez trazida da Terra em missões espaciais. Essa suspeita é suportada pela detecção de fosfina na atmosfera Venusiana. Entenda: Potencial sinal de vida encontrado em Vênus
(2) Para mais informações sobre o funcionamento do James Webb: Primeira imagem histórica do Telescópio Espacial James Webb é finalmente liberada
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REFERÊNCIAS