Tubarões usam o campo magnético da Terra para navegarem pelos mares, aponta estudo
A subclasse Elasmobranchii engloba tubarões e raias, animais marinhos altamente móveis e cujos habitats podem se expandir por milhares de quilômetros, e com algumas espécies exibindo fidelidade local, na qual indivíduos retornam para localizações específicas mesmo após atravessarem enormes distâncias oceânicas. Já foi reportado, por exemplo, que um tubarão-branco (Carcharodon carcharias) nadou da África do Sul até a Austrália e voltou ao mesmo lugar em uma trajetória quase linear - altamente sugestivo de uso dos campos magnéticos da Terra como bússola natural. Além disso, já é bem estabelecido que esses animais são sensíveis a campos eletromagnéticos.
Em um estudo publicado na Current Biology (1), pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida realizaram uma série de experimentos com tubarões da espécie Sphyrna tiburo (tubarão-de-pala) - um pequeno tubarão-martelo (~1,5 metros de comprimento quando adulto) -, simulando os campos magnéticos terrestres encontrados em uma região no Golfo do México, onde essa espécie é comumente encontrada. Os resultados desses experimentos confirmaram que esses tubarões usam o campo magnético para navegarem, sempre seguindo o norte.
O achado também corrobora padrões genéticos a nível populacional e espacial observados entre os tubarões-de-pala. Por exemplo, os pesquisadores encontraram que diferenças magnéticas ao longo do território ocupado por essa espécie corresponde a mais variação no DNA mitocondrial (mtDNA) do que diferenças de temperatura ou de distância da costa. Outro exemplo são marcadores genéticos putativamente sob seleção positiva que estão associados com a variação de latitude (onde existe substancial variação na intensidade do campo magnético). Fidelidade local garantida pela orientação magnética acaba ajudando a isolar grupos que, caso contrário, poderiam estar sempre em constante contato, aumentando o fluxo genético e diminuindo drasticamente notáveis diferenças genéticas.
Apesar do estudo focar em apenas uma espécie de tubarão, evidências acumuladas até o momento fortemente sugerem que seus resultados se aplicam aos tubarões e raias em geral.
(1) Publicação do estudo: https://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(21)00476-0