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Destruição do Cerrado e da Amazônia está causando massivos prejuízos para a agricultura


Em regiões tropicais, perda amplamente disseminada de floresta nativa e vegetação de savana está aumentando fluxos extremos de calor e dramaticamente reduzindo precipitação, particularmente em áreas de agricultura. Um estudo publicado no periódico World Development (Ref.1) encontrou que a devastação do cerrado e da floresta amazônica no território Brasileiro para dar espaço a plantações diversas está causando massivas perdas econômicas no próprio setor de plantação de soja - a grande força motriz da nossa agropecuária. Com cada vez menos floresta tropical adjacente, calor extremo não está conseguindo ser barrado com eficiência, causando altas temperaturas locais que levam a uma redução anual de produtividade média de US$100 por hectare em 2012, somando um total de US$3,55 bilhões (~R$9 bilhões). Contribuição da redução de precipitação elevam esse valor para, no mínimo, US$4,55 bilhões/ano. Hoje essas perdas devem estar em um patamar ainda maior, e o cenário preocupa muito para as próximas décadas.


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Nas últimas décadas, o Brasil tem testemunhado um tremendo crescimento da agricultura, alimentado em parte pela sua emergência como um dos principais exportadores agrícolas. Um dos contribuintes chaves para esse crescimento agrícola é a produção de soja, a qual aumentou mais rapidamente do que qualquer outro setor de destaque da agricultura Brasileira desde 1994. Em 2019, a soja constituía 49% da área de agricultura e 41% dos lucros no setor agrícola. Ainda em 2019, 37% de toda a soja produzida no mundo era plantada no Brasil, e o país agora é o maior produtor mundial desse produto.


O crescimento do setor de soja ocorreu tanto pela intensificação da produção (rendimento médio de 1,7 para 3,2 toneladas por hectare entre 1990 e 2019) e, infelizmente, pela expansão desenfreada de área plantada (de 11,5 para 35,8 milhões de hectares entre 1990 e 2019). Esse crescimento ocorreu especialmente em novas áreas ao norte e ao oeste dos polos estabelecidos de agricultura, avançando sobre os biomas da Amazônia e do Cerrado, respectivamente. O apetite global por derivados de soja (farinha, óleo, etc.) tanto para o consumo humano quanto para o consumo de animais de criação (ração) tem crescido junto ao consumo cada vez maior de carne, atrelado ao crescimento populacional. Esse cenário indica a contínua expansão da fronteira agrícola em detrimento dos nossos biomas, mesmo existindo alternativas tecnológicas sustentáveis de reaproveitamento de terras degradadas e pouco produtivas e de aumento geral da produtividade por área.


Um dos maiores desafios nesse sentido inclui a conversão direta ou indireta de ecossistemas (primariamente através de desmatamento ou outra substituição de vegetação nativa por terra agriculturável) e os efeitos social e ambiental dessa conversão. Emissões diretas de gases estufas, danos à produção de soja que ameaçam a saúde ambiental e humana, e numerosos impactos indiretos das consequências da conversão de terra associadas com a expansão de soja - como os boicotes aos produtos agrícolas Brasileiros pelo mercado internacional - são algumas das sérias preocupações.


Além dos efeitos globais das mudanças climáticas induzidas pelas atividades humanas, aqui no Brasil e em outras regiões tropicais, a devastação dos biomas também afeta localmente o clima, e de forma deletéria. Em destaque, a conversão dos biomas já tem provocado disrupções nos padrões de precipitação em partes da floresta Amazônica e tem aumentado as temperaturas nas regiões diretamente associadas à Amazônia e ao Cerrado. Esses efeitos podem piorar secas em várias regiões do país e reduzir a produtividade de setores extremamente dependentes de grande disponibilidade de água, como a geração e energia hidrelétrica e a agricultura. Declínios de precipitação no Brasil devido ao desmatamento já estão resultando em perdas anuais na agricultura na ordem de US$1 bilhão, como demonstrado em um estudo recentemente publicado na Nature Communications (Ref.2).


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No novo estudo, liderado pela pesquisadora Rafaela Flach da Universidade de Tufts, Boston, EUA, o objetivo foi investigar os danos causados por altas temperaturas locais não amenizadas pela crescente escassez de vegetação nativa na Amazônia e no Cerrado. Dados analisados foram coletados ao longo do período de 1985-2012, calculando-se os prejuízos econômicos para o ano de 2012. Em seguida os pesquisadores buscaram estimar as perdas futuras devido ao cenário de contínua conversão de ecossistemas e consequente redução na regulação de calor ao longo do período de 2020-2050. Valores passado e futuro dessa regulação térmica nos preços agrícolas e no mercado de carbono relativo à biomassa florestal foram também determinados.


Os resultados das análises reforçaram que a destruição de florestas e de outros ecossistemas instantaneamente elevam o fluxo de calor e reduzem precipitação nas áreas adjacentes onde a devastação ocorreu, infligindo pesados danos para as plantações próximas e aquelas diretamente substituindo as áreas de vegetação nativa. Considerando a área total de plantio de soja afetada, a perda anual calculada foi de US$3,55 bilhões. Somando-se às perdas com a precipitação (!), temos US$4,55 bilhões de prejuízo anual, com esse valor sendo provavelmente maior, já que as estimativas são conservadoras.


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Por fim, os pesquisadores encontraram que já pelo início de 2050, crescimento agrícola, conversão de ecossistemas, e mudanças climáticas podem aumentar os valores de regulação de calor-extremo em 25% a 95%, aumentando ainda mais a importância de se conservar os dois biomas investigados, especialmente o Cerrado e o sudeste da Amazônia. Futuros valores mostraram-se fortemente sensitivos a mudanças na densidade agrícola, taxas de perda da vegetação nativa e clima.


Em outras palavras, o próprio setor agrícola - em particular na figura de elites políticas e de grandes empresários - está promovendo sérios danos para si mesmo ao rejeitar a responsabilidade de defender alternativas sustentáveis para o avanço de produtividade agrícola e ao ignorar a questão do desmatamento ilegal. Essa falta de lógica e negacionismo científico acabam também ameaçando a seguridade alimentar global. Para piorar, desde 2018, a administração do governo Bolsonaro agiu ativamente para enfraquecer 57 leis ambientais, ameaçando a efetividade do Código Florestal. Para citar um exemplo, de março de 2020 até agosto de 2020, houve eliminação de 70% das multas ambientais para operações ilegais. A ferida sendo aberta está se infecionando e ameaçando todo o corpo, mas a dor gerada está sendo amenizada via placebo ideológico e retórica política que nega a ciência.


Evidência mostra que milhões de hectares de baixa produtividade e ecossistemas já legalmente convertidos podem acomodar o dobro de área para aumentar a produção e suprir a crescente demanda alimentar. Além disso, uma produtividade muito maior pode ser alcançada nos campos de plantio em geral através da otimização tecnológica no setor.


REFERÊNCIAS

  1. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0305750X21001972
  2. https://www.nature.com/articles/s41467-021-22840-7


Destruição do Cerrado e da Amazônia está causando massivos prejuízos para a agricultura Destruição do Cerrado e da Amazônia está causando massivos prejuízos para a agricultura Reviewed by Saber Atualizado on julho 13, 2021 Rating: 5

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