Nem a pandemia freou a devastação na Amazônia e no Pantanal
Uma preocupante análise (1) do Instituto de Recursos Globais em parceria com a Universidade de Maryland, EUA, encontrou um aumento de 12% de devastação florestal nos trópicos em 2020 comparado com 2019, mesmo com o mundo enfrentando uma pandemia que freou setores que promovem o desmatamento, como a produção de óleo de palma e de cacau. Mais de 12 milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical primária – uma área similar àquela da Suíça – foram destruídos no ano passado, especialmente no Brasil. Essa destruição liberou mais de 2,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, o equivalente à emissão anual de 570 milhões de carros.
No Brasil, houve uma perda de floresta primária – área florestal nativa, rica em biodiversidade e carbono armazenado, e não explorada pelas atividades humanas – totalizando 1,7 milhões de hectares em 2020, um aumento de 25% em comparação com 2019. A maior parte dessa perda (88,2%) ocorreu na Amazônia, onde houve um aumento de 15% de devastação em comparação com 2019, acompanhando também um aumento nas atividades de fogo na região – extremamente deletério para uma floresta tropical úmida, a qual não evoluiu defesas para resistir ao fogo. Mudanças climáticas e acelerado desmatamento estão deixando a Amazônia cada vez mais seca e suscetível ao alastramento descontrolado do fogo.
Porém quem mais sofreu foi o Pantanal, onde houve um aumento de 16 vezes na perda de vegetação primária em 2020 em comparação com 2019. Especialistas estimam que 30% do Pantanal queimou em 2020, incluindo várias áreas protegidas. Além disso, vários territórios indígenas queimaram, deixando tribos como a Guató sem comida ou água limpa. Milhares de animais morreram, incluindo onças-pintadas (Panthera onca) e outras espécies vulneráveis. Muitas áreas provavelmente não serão recuperadas por décadas, e os danos a longo-prazo no bioma como um todo são incertos.
A nova análise acompanha um estudo Brasileiro-Holandês apontando para a crescente savanização da Amazônia Brasileira, e em seu interior, não apenas nas fronteiras florestais (2). Estamos cada vez mais próximos de um ponto de não retorno nesse bioma, representando um verdadeiro desastre para o país e para o mundo.
O desmonte ambiental no nosso país continua avançando, alimentando e acobertando a destruição dos nossos biomas, e a evidência mais clara disso é a permanência do anti-Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Essa devastação ambiental também cria outro problema: aumenta a exposição de mamíferos selvagens ao novo coronavírus (criação de reservatórios naturais), e também aumenta a exposição de humanos a novos vírus perigosos e outros patógenos via transmissão zoonótica.
(1) Publicação do estudo: https://research.wri.org/gfr/forest-pulse
(2) Para mais informações, acesse: Incêndios florestais têm promovido a expansão das savanas no coração da Amazônia, indica estudo