Estudo Brasileiro encontra benefícios clínicos no uso de própolis verde contra a COVID-19
Em um estudo clínico randomizado-controlado publicado como preprint (ainda não revisado por pares) na plataforma medRrxiv (1), e conduzido por pesquisadores Brasileiros - englobando cientistas da FioCruz, Universidade de Salvador, USP e Universidade do Estado da Bahia -, o uso terapêutico da própolis - composto bioativo produzido pelas abelhas - mostrou grande potencial como auxiliar no tratamento de pacientes hospitalizados com COVID-19. Resultados positivos incluíram substancial redução no tempo de hospitalização e, em doses maiores de própolis, redução no risco de desenvolvimento de danos renais.
A própolis, um produto natural produzido por abelhas a partir de resinas e partes bioativas de plantas, é extensivamente consumida em várias regiões do mundo, devido à sua reputação como um composto com propriedades medicinais, incluindo reportada atividade antiviral, antioxidante, antimicrobiana, antiparasítica, antitumoral, imunomodulatória, anti-inflamatória e propriedades hepatroprotetiva.
Fisicamente, a própolis exibe uma coloração de verde-amarelado até um amarronzado, dependendo da sua idade e fonte, e consiste de resina (50%), cera (30%), óleos (10%) e pólen (5%) e compostos fenólicos adicionais como flavonoides, além de aminoácidos, glicose, vitaminas A, B, C, D e E, sais minerais, e ácido butírico (2). Abelhas produzem própolis ao coletar principalmente resina de brotos, superfícies ou outras partes da planta. Essas resinas são então misturadas com a saliva e enzimas produzidas pelas abelhas para se tornarem novas resinas: uma mistura elástica de cera e pólen de flores, a qual é chamada de própolis. Esse composto resultante é usado como parte dos mecanismos de barreira desses insetos contra invasores, selando e servindo como bloco de construção em várias estruturas da colmeia.
Em testes in vitro, componentes do própolis já mostraram promissora ação de interferência com a expressão da enzima TMPRSS2 e da glicoproteína ACE2, ambas presentes nas nossas células e de outros animais e usadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) para a infecção celular. Além disso, os componentes da própolis podem ajudar a reduzir processos inflamatórias através da inibição da enzima PAK1. De fato, estudos prévios têm sugerido a investigação do própolis visando o tratamento da COVID-19 (3).
Porém, uma pertinente objeção à mais ampla aceitação da própolis para o uso medicinal é o fato desse produto natural variar dramaticamente em composição e atividade biológica, dependendo das espécies de plantas que as abelhas usam como matéria-prima, espécie da abelha, idade e da região geográfica.
No novo estudo clínico, os pesquisadores usaram um própolis padronizado (Extrato de Própolis Verde Brasileiro, EPP-AF) produzido no sudeste do Brasil para tratar 124 pacientes com COVID-19 no Hospital São Rafael, em Salvador, Bahia. Os pacientes foram divididos de forma aleatória em três grupos: 40 recebendo 400 mg/dia de própolis, 42 recebendo 800 mg/dia de própolis - ambos junto com tratamento básico hospitalar -, e 42 recebendo apenas tratamento básico hospitalar (grupo de controle). As doses de própolis foram administradas ao longo de 7 dias.
Todos os pacientes tinham uma idade superior a 18 anos e idade média de 50 anos. No geral, 5,2% dos pacientes tinham hipertensão, 51,6% eram obesos, 21% tinham diabetes e 7,3% tinham doença crônica pulmonar obstrutiva (todos fatores de risco para o desenvolvimento de COVID-19 mais severa). Na randomização, 3,2% estavam sob ventilação mecânica invasiva, 48,4% estavam recebendo oxigênio via ventilação não-invasiva e 41,1% estavam sendo tratadas na unidade de tratamento intensivo (UTI).
Ao longo de 28 dias de estadia hospitalar, o tempo de hospitalização nos grupos recebendo própolis reduziu em média 5 dias em relação ao grupo de controle (6-7 dias vs. 12 dias). Porém, não houve diferença no tempo sob suplementação com oxigênio entre os grupos. Nos resultados clínicos secundários, houve uma redução substancial no risco de danos renais no grupo recebendo a maior dose de própolis: 23,8% (controle), 12,5% (400 mg/dia) e 4,8% (800 mg/dia) desenvolveram nos nos rins. Nenhum efeito adverso significativo foi reportado com o uso de própolis em relação ao grupo de controle.
É válido ressaltar que o estudo possui limitações, como o não-uso de placebo, número pequeno-médio de voluntários e pacientes distribuídos em várias fases da doença (leve, moderado e severa). Importante também lembrar que o estudo ainda não foi publicado em periódico após revisão por pares. De qualquer forma, os resultados positivos - caso confirmados pós-revisão - justificam a exploração dessa via terapêutica auxiliar e segura em estudos de grande porte e de melhor qualidade.
REFERÊNCIAS