Revelado os segredos genéticos das raízes aéreas dessa espécie de figueira
O gênero Ficus é o maior na família Moraceae - a qual consiste de 800 espécies -, emergindo há aproximadamente 75 milhões de anos. Produzindo árvores com frutos muito grandes, as figueiras (Ficus) atraem mais de 1200 espécies de aves e de mamíferos, os quais servem como importantes dispersadores de sementes. No entanto, as figueiras possuem polinizadores únicos - vespas específicas para cada espécie -, e produzem perfumes únicos para atrair esses insetos, além de flores com formatos específicos para cada vespa.
Em um estudo publicado no periódico Cell (1), pesquisadores investigaram o genoma da espécie Ficus microcarpa, popularmente conhecida como figueira-asiática, e da espécie próximo-relacionada Ficus hispida. A figueira-asiática, habitante de regiões tropicais e subtropicais, é notável por ter raízes aéreas partindo dos seus galhos em direção ao solo. Porém, ao contrário de metade das espécies conhecidas de figueira, como a F. hispida, que possuem ou árvores machos ou árvores fêmeas, a F. microcarpa possui tanto flores fêmeas quanto flores machos em uma única árvore.
No sequenciamento genômico, os pesquisadores revelaram uma quantidade excessiva de duplicações genéticas na F. microcarpa, representando em torno de 27% do seu genoma. Essas duplicações aumentavam o número de genes envolvidos na síntese e no transporte de auxinas, uma classe de hormônios que promovem o crescimento das plantas. Os níveis de auxina eram 5 vezes maiores nas raízes aéreas do que nas folhas de outras árvores do gênero Ficus, e, portanto, parecem engatilhar a produção de raízes aéreas. As regiões genômicas duplicadas também continham genes envolvidos na imunidade da planta, nutrição e a produção de compostos voláteis orgânicos que sinalizam polinizadores
Por outro lado, enquanto que a F. microcarpa possuía apenas uma cópia do gene FhAG2 associado ao sistema reprodutor, a F. hispida e três outras espécies de figueira mostraram possuir 3 cópias (duplicações do gene) nas árvores machos, sugerindo fortemente que esse gene é responsável pela determinação do sexo das figueiras. Uma cópia do FhAG2 deixa a planta com ambos os sexos.
Finalmente, os pesquisadores também realizaram o sequenciamento genômico da vespa polinizadora da F. microcarpa, a Eupristina verticillata. Quando comparado com o genoma de outras vespas próximo-relacionadas não associadas às figueiras, os pesquisadores observaram que a vespa E. verticillata preservava genes para receptores odoríferos responsáveis por determinar os odores-específicos exalados pela figueira-asiática. Essa assinatura genômica é um forte sinal de co-evolução entre esses insetos e as figueiras, como já sugerido pelas evidências anatômicas e ecológicas.
> O mecanismo evolutivo de duplicação genômica é um dos principais processos que geram informação genética nos seres vivos durante a evolução. Se mais pessoas entendessem o básico desses mecanismos genéticos, a evolução biológica seria muito mais aceita entre o público. Infelizmente, discussões pobres sobre a evolução acabam ficando muitas vezes sobre o debate de temas mais superficiais, como seleção natural - talvez o maior erro no ensino escolar da evolução, o que estaciona o assunto no século XIX. Para mais informações sobre a questão, acesse: https://bit.ly/3duICit
(1) Publicação do estudo: https://www.cell.com/cell/fulltext/S0092-8674(20)31240-X
Reviewed by Saber Atualizado
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outubro 27, 2020
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