Canabidiol mostrou ser eficaz no tratamento do vício em maconha
Um estudo duplo-cego randomizado placebo-controlado publicado no periódico The Lancet Psychiatry (1) foi o primeiro a reportar que o uso diário de canabidiol é seguro para tratar o vício em maconha (transtorno do uso de cannabis) - problema cada vez mais comum em meio à crescente tendência de legalização da droga em vários países -, e pode ajudar as pessoas a reduzir o uso de maconha.
Na primeira fase do estudo, foram analisados quatro grupos constituídos de 12 pessoas (48 no total) consumindo: placebo, 200 mg, 400 mg ou 800 mg de canabidiol por dia. Os pesquisadores encontraram uma dose ótima diária entre 400 mg e 800 mg de canabidiol, a qual é consideravelmente maior do que as quantidades encontradas em produtos de canabidiol disponíveis sem prescrição (os quais tipicamente contêm cerca de 25 mg de canabidiol). Os pesquisadores alertaram que tais produtos não devem ser usados para propósitos medicinais. Uma dose de 200 mg/dia se mostrou inefetiva.
Nesse sentido, foi realizada uma segunda fase do estudo recrutando mais 34 pessoas que foram aleatoriamente colocadas ou em um grupo de placebo (11 participantes), ou em um grupo recebendo 400 mg/dia de CBD (12), ou em um grupo recebendo 800 mg/dia de CBD (11).
Ambas as doses diárias de 400 mg e de 800 mg mostraram reduzir significativamente o consumo de maconha pelos participantes (reduzindo os níveis de THC na urina em -94.21 ng/mL e -72.02 ng/mL, respectivamente). Somando-se a isso, abstinência do uso de maconha aumentou por um média de 0,5 dia por semana no grupo que recebeu a dose diária de 400 mg e 0,3 dia/semana no grupo que recebeu 800 mg/dia.
Não foram observadas diferenças de efeitos colaterais entre os grupos. Dos 82 participantes inicialmente recrutados pelo estudo, apenas 5 desistiram no meio do caminho por motivos diversos não diretamente associados ao tratamento com CBD. Nenhum evento adversos sério foi observado durante o estudo, sugerindo que o CBD é seguro e bem tolerado nas doses testadas. No total, o estudo se estendeu por 4 semanas.
Estudos de maior porte precisam agora ser realizados para corroborar ou refutar os achados.
O vício em maconha afeta um estimado de 22 milhões de pessoas ao redor do mundo, e a proporção de pessoas procurando ajuda para essa condição têm aumentado em todas as regiões do mundo com exceção da África. O THC (Δ-9-tetrahidrocanabinol) é o principal canabinoide da maconha e o responsável pela toxicidade e pela dependência associadas. Nos EUA e na Europa, as concentrações de THC têm dobrado ao longo da última década. Maiores concentrações de THC estão associadas com uma maior severidade e incidência do transtorno do uso de cannabis, além de um risco 5 vezes maior de psicose. Na Europa, o problema aumentou em 76% na última década.
Não existem até o momento medicamentos para o tratamento do transtorno do uso de cannabis. O canabidiol - um dos mais de 80 compostos ativos presentes na maconha - surge agora como potencial opção, de forma relativamente similar ao uso da nicotina para tratar o vício em cigarro. Diferente do THC, o canabidiol possui ação direta mínima nos receptores de canabinoide do corpo, mas um amplo espectro de ações farmacológicas no sistema endocanabinode e de modulação dos receptores canabinoides. Nesse sentido, essa substância exibe grande potencial terapêutico para fins diversos sem estar associada a preocupantes efeitos adversos.
O uso do canabidiol para tratar a dependência da maconha é um perfeito exemplo da diferença entre uso indiscriminado da droga e uso medicinal da maconha. O uso indiscriminado ou recreativo NÃO é medicinal, e pode estar associado a sérios danos à saúde, especialmente se envolver fumo (baseado) ou ocorrer durante a adolescência (2).
(1) Publicação do estudo: The Lancet
> IMPORTANTE: Grávidas NÃO devem usar canabidiol ou maconha.
(2) Leitura recomendada: Fumo e uso recreativo da maconha: lobo sob pele de cordeiro