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Golfinhos aprendem via transmissão horizontal, como primatas superiores


Em um impactante estudo publicado no periódico Current Biology (1), pesquisadores demonstraram pela primeira vez que os golfinhos são capazes de aprender fora da interação mãe-filhote (transmissão vertical de aprendizado) - e na fase adulta - observando o comportamento de outros companheiros da mesma espécie (transmissão horizontal de aprendizado). É a primeira vez que algo do tipo é visto em um animal que não fosse um primata superior (incluindo humanos).

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A teoria prediz que ambientes estáveis deveriam favorecer conservantismo: a dependência em informação já estabelecida obtida de gerações mais velhas através de transmissão vertical ou oblíqua é pensada de ser vantajosa porque é testada, baseada em experiência, e, portanto, mais provavelmente adaptada para atuais condições ambientais. Rápida mudança ambiental, no entanto, deveria favorecer progressivismo cultural através de transmissão horizontal, considerando que informação pode se tornar ultrapassada, promovendo a aquisição de comportamentos inovativos entre membros da mesma espécie em ordem de se adaptar rapidamente a novas condições ambientais.

Nesse último caso, uma não-esperada onda de calor marinha em 2011 causou uma catastrófica morte em massa de algas marinhas e subsequente distúrbio ecológico ao longo dos níveis tróficos na Baía de Shark, no Oeste da Austrália, com impactos de longo prazo na sobrevivência e na reprodução na população de golfinhos da espécie Tursiops aduncus na região. Curiosamente, um comportamento de caça bem distinto entre os golfinhos - uso de conchas vazias para capturar peixes (shelling) - passou a ocorrer de forma mais frequente imediatamente após a onda de calor, com mais de 50% de todos os eventos de 'shelling' sendo observados nos dois anos subsequentes ao desastre climático.

O método de caça 'shelling' usado por golfinhos aproveita presas que se escondem dentro de conchas vazias de caracóis marinhos gigantes encontradas na Baía Shark. Esses mamíferos usam a boca para trazer essas conchas para a superfície e então as sacodem para abocanhar a presa - peixes, crustáceos, etc. - dentro delas.  

Técnicas de caça na Baía Shark são tipicamente passadas de mãe para filhotes entre os golfinhos, e essa transmissão entre gerações (vertical) era considerada o único método de aprendizado de caça entre esses animais.

No novo estudo, os pesquisadores realizaram uma robusta coleta de dados comportamentais dos golfinhos vivendo na Baía Shark entre 2007 e 2018, identificando 1035 diferentes indivíduos de 5278 encontros de grupos desses animais. Um total de 42 eventos de shelling foram registrados realizados por 19 indivíduos representando três diferentes linhagens haplótipas de DNA mitocondrial (mtDNA). 

Apesar do número de eventos de 'shelling' parecer bem raro à primeira vista, tanto o número de shellings quando o número de indivíduos que praticam o método é provavelmente muito subestimado, já que o comportamento ocorre de forma súbita e durando apenas alguns segundos, ou seja, difícil de ser observado.

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Nesse sentido, os pesquisadores combinaram dados comportamentais, genéticos e ambientais para modelar diferentes caminhos de transmissão do comportamento visado. Os resultados da análise trouxeram forte evidência suportando a transmissão horizontal (social) desse comportamento de caça entre os golfinhos adultos. Além disso, o estudo encontrou que os golfinhos não apenas são capazes de aprender com os seus companheiros como também são motivados a aprenderem.

Segundo os modelos desenvolvidos pelos pesquisadores, os golfinhos aprendiam a técnica sozinhos (de forma independente) aproximadamente 43% das vezes, e grande parte do restante via transmissão horizontal. Porém, é também possível que boa parte desses supostos aprendizados independentes sejam oriundos de transmissão horizontal não acusada por causa da limitação dos dados coletados.

Ainda é incerto se o evento extremo de onda de calor fomentou a transmissão horizontal de aprendizado visando uma melhor adaptação para as rápidas mudanças ambientais. Mas é mais do que provável que uma maior abundância de gastrópodes gigantes morrendo e deixando suas conchas devido ao desequilíbrio ambiental forneceu um aumento de oportunidade de aprendizado para o comportamento de 'shelling'.


USO DE FERRAMENTAS ENTRE GOLFINHOS

Junto com o uso de esponjas-marinhas - técnica tipicamente adotada por algumas fêmeas de golfinhos na Baía Shark para capturar certos peixes (e um comportamento transmitido verticalmente) -, a técnica de shelling representa o segundo caso reportado de uso de ferramenta por golfinhos.

Para qualificar algo como 'uso de ferramenta', o comportamento alvo precisa envolver o emprego externo de um objeto ambiental não anexado ao corpo do animal; servir para alterar a forma, posição, ou condições de outro objeto, organismo, ou do próprio usuário, e o usuário precisa ser responsável pela orientação apropriada e efetivada da ferramenta.

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Os golfinhos usam a concha para primeiro aprisionar a presa antes de expô-la à gravidade ao levantar a concha acima da superfície da água e sacudi-la com o objetivo de soltar a presa lá de dentro e levá-la para sua boca. Portanto, a técnica de shelling preenche os requisitos necessários para a classificação de 'uso de ferramenta'. No vídeo abaixo, o momento quando um golfinho realiza a técnica.


            


PRIMATAS SUPERIORES E CETÁCEOS

O aprendizado na fase adulta e via transmissão horizontal tende a ocorrer em espécies com extensivos repertórios culturais, como amplo espectro de comportamentos de aprendizado social, e caracterizadas por altos níveis de tolerância social, como os primatas superiores (chimpanzés, gorilas, humanos, orangotangos). 

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Evidência de transmissão horizontal de aprendizado entre golfinhos, portanto, sugere que as naturezas culturais de primatas superiores e de golfinhos são similares, mesmo ambos representando divergências evolucionárias bem distantes e nichos ecológicos bem distintos (aquático e terrestre). Os dois grupos de animais possuem, de fato, marcantes características em comum em termos de habilidades cognitivas, histórico de vida e sistemas sociais: ambos possuem grande longevidade e são mamíferos com cérebro grande associados com altas capacidades para inovação. Além disso, muitas espécies de golfinhos vivem em sociedades de fissão-fusão, como aquelas vistas em chimpanzés, e expressando altos níveis de tolerância social (favorecendo interações sociais e troca de experiências).


(1) Publicação do estudo: Current Biology

Golfinhos aprendem via transmissão horizontal, como primatas superiores Golfinhos aprendem via transmissão horizontal, como primatas superiores Reviewed by Saber Atualizado on junho 26, 2020 Rating: 5

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