Dar descarga com a tampa aberta pode gerar uma nuvem de coronavírus
Em um estudo publicado ontem no periódico Physics of Fluids (1), pesquisadores mostraram que o processo de descarga cria uma nuvem turbulenta de spray potencialmente contaminada com patógenos diversos e que pode ser aspirada pelas pessoas dentro do banheiro. Se a água no vaso estiver contaminada com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), o indivíduo dando descarga corre sério risco de ser contaminado se medidas de prevenção não forem adotadas.
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As principais rotas de transmissão do SARS-CoV-2 são gotículas, contato direto e provavelmente aerossóis (I), mas uma boa parte dos pacientes com a doença associada (COVID-19) desenvolvem sintomas gastrointestinais como diarreia e vômito, e esta e mais outras evidências acumuladas têm demonstrado que o SARS-CoV-2 pode infectar o intestino delgado e sobreviver no trato gastrointestinal (II). De fato, análises em amostras de fezes de pacientes com COVID-19 e em amostras de esgoto têm detectado material genético do vírus, o que fornece evidência que o SARS-CoV-2 pode potencialmente ser transmitido pela via fecal-oral/nasal (III).
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Estudos prévios já tinham demonstrado que outros coronavírus humanos, como o SARS-CoV-1 (SARS) e o MERS-CoV (MERS), são caracterizados por uma transmissão fecal-oral. Somando-se a isso, também comuns patógenos intestinais, norovírus e rotavírus podem se espalhar facilmente através da rota fecal-oral devido ao fato dos seus principais sintomas serem diarreia e vômito. Portanto, a transmissão fecal-oral é algo comum para boa parte dos vírus, e suprimir essa forma de transmissão pode ser uma efetiva arma de controle epidêmico.
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Nesse sentido, uma potencial fonte de infecção são os vasos sanitários, especialmente no processo de descarga. No novo estudo, pesquisadores da Universidade de Yangzhou, China, mostraram que quando a água é liberada para limpar o conteúdo do vaso, o forte jato atinge os lados da parede interior, criando uma nuvem de turbulência e de pequenas gotículas que pode contaminar todo o ambiente do banheiro.
Simulações computacionais - baseadas em modelos dinâmicos de fluídos - feitas pelos pesquisadores mostraram que essa nuvem de gotículas podem alcançar velocidades de 5 m/s e alcançar até 106,5 cm de altura, e com cerca de 40-60% do total de gotículas expelidas subindo além da altura do vaso e potencialmente contaminando amplas áreas. E mesmo no período pós-descarga (35-70 segundos após a última descarga), a velocidade vertical das gotículas espalhadas podem alcançar ainda 0,27-0,37 cm/s, e essas gotículas continuam subindo para fora do vaso. E muitas dessas gotículas são tão pequenas que podem ficar flutuando no ar por mais de 1 minuto, facilitando a aspiração direta de gotículas contaminadas pelo indivíduo no banheiro e sua deposição em superfícies diversas.
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Considerando esses alarmantes achados, os pesquisadores recomendaram os seguintes cuidados de prevenção, especialmente em ambientes públicos:
- Sempre fechar a tampa do vaso sanitário antes de dar a descarga, o que basicamente impede a nuvem turbulenta de gotículas de escapar;
- Limpar o vaso antes de usá-lo, considerando que partículas virais podem ter se espalhado na superfície de assento;
- Lavar muito bem as mãos após a descarga, já que partículas virais podem estar presentes no botão de descarga, na maçaneta da porta ou em outras partes do banheiro a partir de visitas prévias.
Os pesquisadores também sugeriram que fabricantes de vasos sanitários podem ser aproveitar dos cálculos e dados gerados no estudo para projetos mais seguros de vasos sanitários que minimizem ao máximo a emissão de gotículas contaminadas durante o processo de descarga.
(1) Publicação do estudo: Physics of Fluids
Dar descarga com a tampa aberta pode gerar uma nuvem de coronavírus
Reviewed by Saber Atualizado
on
junho 17, 2020
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