Alerta: Risco de morte muito alto para qualquer cirurgia na pandemia
Em um estudo global publicado no The Lancet (1), especialistas de diferentes instituições - incluindo a Universidade de Birmingham e Hospital Geral de Massachusetts - trouxeram um importante alerta. Eles revelaram que pacientes submetidos a cirurgia após serem infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) possuem um risco muito aumentado de morte no pós-operatório. Foi encontrado que entre esses pacientes, as taxas de mortalidade se aproximavam dos pacientes com COVID-19 admitidos em unidades de tratamento intensivo (UTI) e eram muito maiores do que o esperado para pacientes no pós-operatório não infectados com o SARS-CoV-2.
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Pacientes submetidos a cirurgias no ambiente hospitalar - no contexto da atual pandemia - são um grupo de risco em relação à exposição ao SARS-CoV-2 e podem estar particularmente suscetíveis a subsequentes complicações pulmonares devido a respostas de citocinas pró-inflamatórias e imunossupressoras ao procedimento cirúrgico e ventilação mecânica. Antes da pandemia, estudos observacionais de alta qualidade tinham estabelecido taxas de complicações pulmonares pós-operatórias de até 10% e subsequente mortalidade de até 3% após o procedimento cirúrgico. Porém, até o momento, não existia evidência sobre a segurança de se realizar cirurgias em meio à pandemia.
Nesse sentido, no novo estudo (cohort internacional), os pesquisadores resolveram investigar a questão analisando os dados clínicos oriundos de 235 hospitais em 24 países incluindo todos os pacientes que foram submetidos a cirurgia e que tinham a infecção pelo SARS-CoV-2 confirmada dentro de 7 dias antes ou 30 dias depois da cirurgia. No total, foram 1128 pacientes analisados que se submeteram a um procedimento cirúrgico entre 1 de janeiro e 31 de março, dos quais 835 tiveram uma cirurgia de emergência e 280 uma cirurgia eletiva.
Os resultados da análise mostraram que a taxa de mortalidade seguindo 30 dias da cirurgia foi de 23,8%. Essa taxa estava distribuída de forma desproporcional ao longo de todos os subgrupos, incluindo cirurgia eletiva (18,9%), cirurgia de emergência (25,6%), cirurgias de menor impacto como apendicectomia ou reparo da hérnia (16,3%), e cirurgias de maior impacto como cirurgia no quadril ou cirurgia de câncer de colo (26,9%). Para se ter uma ideia, pacientes submetidos a cirurgias de menor impacto ou eletivas são esperados reportarem uma taxa de mortalidade inferior a 1-3%.
A taxa de mortalidade mostrou também ser maior nos homens (28,4%) do que nas mulheres (18,2%), e em pacientes com idade de 70 anos ou mais (33,7%) em comparação com aqueles com menos de 70 anos (13,9%). Em adição à idade e ao sexo e ao tipo de cirurgia, os fatores de risco para a morte pós-operatória incluíram presença de graves comorbidades prévias.
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Além disso, no geral, os pesquisadores encontraram que nos 30 dias seguindo a cirurgia, 51% dos pacientes desenvolveram uma pneumonia, síndrome de estresse respiratório agudo (ARDS), ou requereram ventilação não-esperada. Isso pode explicar a alta taxa de mortalidade, já que a maioria dos pacientes (81,7%) que morreram experienciaram complicações pulmonares, em grande parte devido, claramente, ao SARS-CoV-2. Pré-pandemia, as taxas de ARDS alcançavam 8%, enquanto o novo estudo encontrou uma taxa de 63%. Para cirurgias não-cardíacas, essa taxa de ARDS pré-pandemia alcançava nos EUA 0,2%, com uma taxa de mortalidade pós-operatória associada a complicações pulmonares em torno de 2-3%.
Com base nos resultados do estudo, os pesquisadores recomendaram que durante a pandemia do SARS-CoV-2, o balanço de riscos e benefícios para a decisão de se fazer uma cirurgia devem ser urgentemente reavaliados. Por exemplo, homens com idade superior a 70 anos estão sob um particular alto risco de mortalidade, portanto esses pacientes podem se beneficiar enormemente de um adiamento da cirurgia dependendo da urgência. Recomendação similar é válida para qualquer indivíduo que esteja planejando se submeter a uma cirurgia não-crítica.
(1) Publicação do estudo: The Lancet
Alerta: Risco de morte muito alto para qualquer cirurgia na pandemia
Reviewed by Saber Atualizado
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junho 07, 2020
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