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Estudo mostra que já existem três tipos do novo coronavírus circulando no mundo


Em um estudo publicado no periódico PNAS (1), pesquisadores publicaram os resultados de uma ampla análise filogenética de 160 amostras virais coletadas ao redor do mundo de pacientes infectados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). O estudo, liderado por cientistas da Universidade de Cambridge, Reino Unido, encontrou três tipos diferentes - variações virais devido a processos evolutivos - do SARS-CoV-2 circulando concomitantemente ou não em diferentes países: A, B e C. Apesar dessa rápida taxa de evolução, um artigo publicado hoje no periódico Nature Microbiology (2) reforçou que mutações aceleradas em vírus durante epidemias ou pandemias não é algo necessariamente preocupante, apesar do fator evolutivo impactar no desenvolvimento ou na eficiência de vacinas.

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Um vírus é essencialmente um pacote proteico - com ou sem um envelope lipoproteico - englobando um material genético (RNA ou DNA) e programado para copiar a si mesmo em máxima quantidade dentro das células de um hospedeiro. O SARS-CoV-2 - e outros coronavírus - possuem além do capsídeo um envelope formado por uma bicamada lipoproteica e é constituído de RNA. Quando esse vírus se multiplica dentro das células, através do maquinário genético do hospedeiro, erros ocorrem na síntese de novas fitas de RNA - deleções, duplicações, etc. -, caracterizando a emergência de novas mutações. A maioria dessas pequenas mutações genéticas não fazem diferença para a efetividade do vírus, mas levam a diferenças sutis a nível populacional nas linhagens subsequentes, com mudanças nas frequências de nucleotídeos entre as populações virais que são fixadas a partir de processos como seleção natural e deriva genética. Essas mudanças genéticas podem ser rastreadas via sequenciamento de RNA e usadas para determinar a filogenia do SARS-CoV-2. Ou seja, temos a árvore evolutiva do vírus, a qual se ramifica à medida que o genoma viral se diversifica.

Conhecer o ritmo e perfil dessa diversificação genômica é extremamente importante para estudar o comportamento presente e futuro do SARS-CoV-2, incluindo fluxos migratórios da infecção. Se você possui uma expansão súbita de uma única linhagem viral em algum lugar, você sabe que é preciso investigar mais a fundo as medidas de contenção na área e reforçar o aporte de recursos, porque significa que poucas pessoas infectadas estão espalhando facilmente a infecção para um grande número de pessoas (surtos locais, como em um hospital ou particular área comunitária). E se novos tipos estão emergindo, isso significa que vacinas muito específicas podem não ser tão efetivas para conter a pandemia ou que mais de um tipo de vacina pode precisar ser feito.

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No novo estudo, os pesquisadores construíram um mapa filogenético baseado na análise de 160 genomas amplamente completos do SARS-CoV-2. A análise encontrou três variantes centrais distinguidas entre si por mudanças de aminoácidos expressos pelo RNA viral, e chamadas de A, B e C, com A sendo o tipo ancestral quando comparado com os coronavírus encontrados em morcegos (reservatório original) - especificamente a cepa BatCoVRaTG13 da espécie de morcego R. affinis. Os tipos A e C foram encontrados em significativas proporções fora do Leste Asiático, em especial entre Europeus e Americanos. Em contraste, o tipo B é o mais comum tipo no Leste Asiático, e seu genoma ancestral parece não ter se espalhado fora dessa região sem primeiro ter sofrido mutações para derivados do tipo B, indicando processos de deriva genética ou de resistência imunológica ou ambiental contra esse tipo fora da Ásia.



O tipo A possui dois sub-conjuntos, distinguíveis pela mutação sinônima T29095C. O tipo B é derivado de A por duas mutações: a mutação sinônima T8782C e a mutação não-sinônima C28144T mudando uma leucina para uma serina. O tipo C difere do tipo B pela mutação não-sinônima G26144T, a qual muda uma glicina para uma valina. O tipo C é o identificado no Brasil, além de estar circulando na Itália, França, Suécia, Inglaterra e Califórnia. Boa parte dos infectados pelo SARS-CoV-2 entraram no Brasil oriundos da Itália, incluindo o primeiro caso confirmado no dia 25 de fevereiro de 2020.


PRECISAMOS NOS PREOCUPAR?

Apesar dessa alta taxa de mutação, fomentada pela alta taxa de replicação viral que acompanha o crescimento exponencial de casos ao redor do mundo, especialistas pedem que a população não fique alarmada. Uma carta-comentário publicada hoje no periódico Nature Microbiology reforça essa mensagem, ao lembrar que mutações são uma parte natural do ciclo de vida de um vírus e que raramente impactam surtos epidêmicos ou pandêmicos de forma dramática.

No texto do comentário, escrito por pesquisadores da Universidade de Sydney, Austrália, e da Universidade de Yale, EUA, é realçado que o termo 'mutação' acabou incorporando uma conotação muito negativa devido a produções culturais como filmes, livros, quadrinhos, etc., onde mutação é sempre sinônimo de transformações fantásticas ou muito letais (como mutantes com superpoderes e super-vírus). No entanto, mutações são um dos principais mecanismos de evolução biológica e diversificação da vida no planeta, o qual se junta a outros processos evolutivos, como seleção natural, para dar emergência a novos traços genotípicos e fenotípicos adaptativos, deletérios ou neutros.

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No caso do novo coronavírus, as mutações são ainda mais abundantes e acumulativas porque o SARS-CoV-2 é um vírus de RNA, o qual emprega a enzima polimerase RNA - propensa a erros - para sua replicação dentro do hospedeiro. Os vírus de RNA - HIV, Influenza (gripe), coronavírus - acumulam mutações durante cada ciclo de cópia, este o qual podem ocorrer na ordem de horas, criando novas populações geneticamente distintas em um curto período de tempo. No entanto, a maioria dessas mutações são deletérias e acabam sendo eliminadas pela seleção natural. Assim, uma mutação - ou um acúmulo de mutações - que possa mudar a transmissibilidade ou a virulência do vírus acaba sendo eliminada na população viral por não ser adaptativa. Lembre-se: o vírus "quer" se multiplicar o máximo possível, não matar você com maior eficiência.

Nesse sentido, a ideia de um super-vírus altamente letal emergindo em meio a uma pandemia pode parecer plausível, mas a realidade é muito mais complexa. Um vírus altamente virulento pode reduzir sua transmissibilidade se o seu hospedeiro fica seriamente doente em um curto espaço de tempo, o que pode prejudicar as oportunidades de transmissão. Um vírus que não derruba rápido seu hospedeiro vai ter muito mais chances de disseminar seu material genético. As últimas pandemias de SARS e de MERS, por exemplo, ficaram longe do alcance da atual pandemia, talvez em parte porque os vírus (SARS-CoV e MERS-CoV) eram bem mais letais do que o SARS-CoV-2. Se sintomas mais severos aparecem rápido, ou o indivíduo é isolado mais rapidamente ou fica limitado em termos de movimentação.

De qualquer forma, é incerto se mutações podem aparecer no SARS-CoV-2 alterando substancialmente sua eficiência de transmissão humano-para-humano e/ou alterando sua virulência/letalidade. Apesar de improvável, não é impossível ocorrer ambos. No entanto, caso algo do tipo ocorra, seria mais provável mutações aumentando a transmissibilidade do vírus e o tornando menos letal - aumentando o número de assintomáticos capazes de infectar outras pessoas, por exemplo, como já ocorre em grande extensão hoje.


(1) Publicação do estudo: PNAS

(2) Referência: Nature Microbiology

Estudo mostra que já existem três tipos do novo coronavírus circulando no mundo Estudo mostra que já existem três tipos do novo coronavírus circulando no mundo Reviewed by Saber Atualizado on abril 18, 2020 Rating: 5

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