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Espirro e tosse mandam gotículas contaminadas até 8 metros de distância


Em um estudo publicado ontem no JAMA Network (1), pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) desenvolveram um novo modelo de dispersão de gotículas e de aerossóis a partir da tosse ou espirros. Os experimentos baseando esse modelo indicaram que as gotículas lançadas a partir da tosse podem alcançar 6 metros e, a partir do espirro, até 8 metros, muito mais longe do que as recomendações das agências de saúde para as pessoas ficarem afastadas 1,5-2 metros de indivíduos sintomáticos. O novo estudo, junto com outras evidências e opiniões de especialistas, levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) esta semana a anunciar uma reunião para decidir se uma nova recomendação no uso de máscaras e de outras medidas de proteção individual e comunitária precisarão ser estabelecidas (2). O Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC) já estão prontos para orientar o uso universal de máscaras no país.

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Em meio à pandemia mundial causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) - com mais de 1 milhão de casos confirmados ao redor do mundo e talvez um número real 20 vezes maior (sintomáticos e assintomáticos) -, políticas agressivas de contenção e de mitigação têm sido implementadas em um esforço para limitar a disseminação do COVID-19 (doença causada pelo SARS-CoV-2), incluindo restrições de viagem, triagem e testes de viajantes, isolação, quarentena e fechamento das escolas. O principal objetivo de tais políticas é diminuir os encontros entre indivíduos infectados e indivíduos suscetíveis, desacelerando as taxas de transmissão e protegendo o sistema de saúde.

Apesar desses esforços, existe, porém, uma séria limitação no nosso entendimento das rotas de transmissão hospedeiro-para-hospedeiro de doenças respiratórias, o qual é baseado em modelos muito antigos construídos a partir de experimentos na década de 1930. De acordo com esses modelos, gotículas isoladas são emitidas a partir da exalação de indivíduos infectados, carregando patógenos. Grandes gotículas depositam mais rapidamente do que evaporam, contaminando o ambiente próximo ao redor desses indivíduos. Em contraste, pequenas gotículas evaporam mais rápido do que se depositam. Nesse modelo, à medida que as pequenas gotículas passam das condições quentes e úmidas do sistema respiratório para o ambiente exterior mais frio e mais seco, elas evaporam e formam particulados residuais feitos do material seco das gotículas originais. Esses particulados residuais são referidos como aerossóis. Essas ideias levaram à classificação dicotômica entre 'gotículas vs aerossóis' mediando a transmissão de doenças respiratórias.

Esse sistema simplório de classificação levou ao estabelecimento de faixas discretas de tamanhos variando de 5 até 10 micrômetros para categorizar a transmissão hospedeiro-para-hospedeiro como rota ou via gotículas ou via aerossóis. Esse tipo de categorização, no entanto, pode não refletir acuradamente o que realmente ocorre com as emissões respiratórias, possivelmente contribuindo para a inefetividade de alguns procedimentos usados para limitar a disseminação de doenças respiratórias, incluindo a COVID-19.

De fato, trabalhos recentes têm demonstrado que exalações, espirros e tosses não apenas consistem de gotículas mucosalivares seguindo trajetórias de emissão semi-balísticas de curto alcance mas, primariamente, de uma nuvem turbulenta de gás com múltiplas fases que se mistura com o ar ambiente, carregando conjuntos de gotículas distribuídas em um contínuo de tamanhos. A atmosfera local quente e úmida dentro da nuvem permite as gotículas nela contidas escaparem da evaporação por muito mais tempo do que ocorre com gotículas isoladas. Nessas condições, as gotículas podem persistir 1000X vezes mais tempo do que a presunção clássica, de uma fração de um segundo até minutos.

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Nesse sentido, no novo estudo, os pesquisadores utilizaram câmeras de alta-velocidade e outros sensores para determinarem precisamente o que acontece após uma tosse ou um espirro. Enquanto que as nuvens de alto momento a partir de tosses mostraram carregar pequenas gotículas por distâncias de até 6 metros, os espirros - associados a velocidades muito mais altas (~30 m/s) - mostraram projetar tais gotículas por até 7-8 metros. Além disso, os pesquisadores mostraram que as gotículas presentes nas nuvens turbulentas propelidas depositavam ou evaporavam a taxas que dependiam não somente do tamanho, mas também do grau de turbulência e velocidade da nuvem (10-30 m/s), junto com propriedades do ambiente (temperatura, umidade e fluxos de ar). No vídeo abaixo, é possível ver em detalhes a formação e dinâmica dessas nuvens.


           

Essas longas trajetórias de gotículas sustentadas, segundo os pesquisadores, entram em concordância com reportes recentes da China de que partículas virais do SARS-CoV-2 podiam ser encontradas inclusive nos sistemas de ventilação das salas dos hospitais de pacientes com COVID-19.

Atualmente, as agências de saúde sugerem que as pessoas fiquem afastadas de 1 a 2 metros de outras indivíduos sintomáticos. Essa recomendação é baseada na especulação de que a rota primária de transmissão do SARS-CoV-2 é através de gotículas maiores do que aerossóis - até 1 milímetro de dimensão - expelidas por indivíduos sintomáticos; sob o efeito da gravidade, tais gotículas não ultrapassariam os 2 metros de raio a partir do infectado, seguindo o modelo clássico. No entanto, com base nos resultados do novo estudo, essa suposta 'zona de segurança' está sendo extremamente subestimada. Nesse sentido, medidas como o uso consistente de máscaras e isolamento social precisariam ser reforçadas. Ainda continua incerto, porém, qual a importância dos aerossóis na disseminação do COVID-19, já que essas partículas podem ficar horas suspensas e trafegando no ar, apesar das evidências sendo acumuladas indicaram um papel subestimado.

Em relação específica às máscaras, os achados também reforçam que seu uso não só é extremamente importante como uma fonte de controle (barrando ou desviando as nuvens de gotículas expelidas pelos infectados) mas também como um significativo fator de proteção ao usuário, ao barrar gotículas sendo projetadas (pelo menos de entrarem na boca e no nariz pelo ar), e mesmo a carga viral em gotículas e em aerossóis que são expelidas (I). Atualmente, as máscaras cirúrgicas não são amplamente recomendadas para uso universal por causa do medo de desabastecimento nos hospitais, mas cada vez mais especialistas recomendam que todos as usem fora de casa.

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(I) Leitura recomendada: Afinal, todo mundo deveria estar usando máscaras?

Os pesquisadores do novo estudo também alertaram que as máscaras cirúrgicas e as N95 - as mais populares e mais usadas nos centros hospitalares - não são testadas em termos de eficiência para barrar repetidas nuvens de alto momento e alta velocidade emitidas pela tosse ou espirro. Estudos nesse sentido são necessários.


(1) Publicação do estudo: JAMA

(2) Referência adicional: BBC

Espirro e tosse mandam gotículas contaminadas até 8 metros de distância Espirro e tosse mandam gotículas contaminadas até 8 metros de distância Reviewed by Saber Atualizado on abril 03, 2020 Rating: 5

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