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Assinatura genética por trás da transgeneridade é revelada por estudo


Cientistas parecem ter encontrado a primeira forte evidência (!) biológica da incongruência caracterizando a experiência de indivíduos transgêneros, onde o cérebro indica que eles são de um sexo e o corpo de outro. O achado relacionou receptores de estrógeno no cérebro de 30 indivíduos transgêneros, englobando 22 variantes em 19 genes críticos para o estabelecimento da noção de 'masculino' e 'feminino' no cérebro. O estudo - publicado no periódico Scientific Reports (1) - corrobora evidências genéticas e hormonais prévias, e reforça a ideia de que a transgeneridade - e a identidade de gênero em geral - é determinada principalmente por fatores biológicos, longe de ser fruto apenas do construtivismo social ou uma simples 'escolha', como muitas bandeiras ideológicas intolerantes tendem a pregar.

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(!) ATUALIZAÇÃO (01/07/20): A segunda forte evidência foi reportada em um estudo publicado no periódico Nature Neuropsychopharmacology: Cientistas revelam significativas diferenças na estrutura cerebral de transgêneros
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A disforia de gênero ocorre quando uma incongruência entre o gênero expresso e o gênero normalmente associado ao sexo causa grande desconforto ou debilidade funcional no indivíduo afetado. Estima-se que essa condição é experienciada por 0,5-1,4% da população do sexo masculino (XY) e 0,2-0,3% da população do sexo feminino (XX). É importante destacar que o termo relacionado - identidade transgênera - não deve ser tratado como um sinônimo para a disforia de gênero. Apesar de ambos os termos incluírem indivíduos cujo sexo no nascimento e o gênero auto-identificado não serem congruentes, uma pessoa experienciando disforia de gênero pode não necessariamente se auto-descrever como transgênero, e um indivíduo transgênero pode não mais experienciar disforia de gênero após tomar passos para expressar a si mesmo em modos mais consistentes com o gênero expresso - no processo conhecido como 'transição', único para cada indivíduo e que pode envolver desde mudanças sócio-comportamentais até terapias hormonais ou cirúrgicas.

Apesar dos benefícios de saúde física e mental associados com a transição nos indivíduos afetados pela disforia de gênero, as pessoas transgêneras ainda encaram grande dificuldade em suas vidas, especialmente discriminação social e violência sexual. Isso torna esses indivíduos suscetíveis a um maior risco de depressão, abuso de substâncias e tentativas de suicídio. E, para piorar, os transgêneros também encontram fortes empecilhos quando buscam ajuda médica, inclusive discriminação por profissionais de saúde e dificuldade na obtenção de planos de saúde visando cobrir terapias de afirmação de gênero.

E um dos fatores contribuindo para os obstáculos acima mencionados é uma falta geral de entendimento sobre a base biológica da disforia de gênero, apesar de evidências científicas acumuladas nos últimos anos sugerirem uma significativa contribuição genética, associada com fatores hormonais-uterinos e possivelmente epigenéticos (2). Estudos em gêmeos monozigóticos e dizigóticos têm indicado uma hereditariedade de 38-47% em indivíduos do sexo feminino e de 25-43% para indivíduos do sexo masculino. Já estudos genéticos moleculares - apesar de limitados e envolvendo pequenos grupos analisados - já chegaram a identificar variantes em genes como COMT, RYR3, SRD5A2, STS, e SULT2A, e variantes de genes codificando aromatase, receptores androgênicos, receptores de estrógeno alfa e beta, e 17alfa- hidroxilase, todos relacionados com um cérebro sexualmente dismórfico.

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(2) Leitura recomendada: O que é a tal da Ideologia de Gênero?

Estudos mais robustos e em maior número, por outro lado, têm descrito com grande detalhe as diferenças entre o cérebro de machos e de fêmeas, especialmente em modelos de animais não-humanos. Em roedores, quatro áreas cruciais do cérebro têm sido identificadas com caminhos de desenvolvimento levando ao dimorfismo sexual: o núcleo ventromedial (VMN), a área media pré-óptica (mPOA), o núcleo anteroventral periventricular (AVPV), e o núcleo arcuado. Em cada uma dessas regiões, os caminhos moleculares e celulares dismórficos são iniciados pela ativação do receptor neuronal de estrógeno (ER) e resulta em diferenças regionais sexo-específicas na densidade ou no volume dendríticos. De forma contra-intuitiva, no feto macho a ativação do ER leva a uma masculinização do cérebro, devido à rápida e grande produção transiente de testosterona pelos testículos; esse excesso de testosterona é parcialmente aromatizado em estradiol, o qual ativa o ER. Nos fetos fêmeas, o ER não é estimulado, levando ao neurodesenvolvimento sexo-específico que marca uma feminização. Interferências genéticas ou hormonais podem interferir nesses processos e impedir a expressão do gênero congruente com o sexo (!!).

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(!!) Estudos já mostraram o efeito dessas interferências em laboratório, com ratos fêmeas expressando comportamentos de machos e vice-versa. Estudos observacionais também já reportaram tais desvios comportamentais sexo-específicos em primatas não-humanos.

> Sugestão de leitura: Comportamentos e preferências sexuais em ratos variam ao se ativar ou desativar uma região específica do cérebro
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No novo estudo, os pesquisadores resolveram investigar mais a fundo os genes associados com esses caminhos de diferenciação sexual no cérebro e como eles podem contribuir para a emergência da disforia de gênero e da identidade transgênera. Para isso, foram analisados o DNA genômico de 30 indivíduos transgêneros não relacionados - 13 transgêneros machos e 17 transgêneros fêmeas -, através de sequenciamento de exoma inteiro (WES). Exoma é a fração do genoma que codifica os genes, permitindo a produção de proteínas que garantem o funcionamento normal do nosso organismo.

As análises identificaram variantes em 19 genes candidatos que podem estar envolvidos nos caminhos de desenvolvimento do gênero no cérebro. Essas variantes, primeiro identificadas via WES, foram então confirmadas com sequenciamento Sanger. Nenhuma dessas variantes foi encontrada em bancos de dados genéticos da população em geral, ou em 88 indivíduos não-transgêneros usados como controles no novo estudo. Isso fortemente sugere que as variantes não são polimorfismos comuns, como de fato esperado pela baixíssima prevalência de indivíduos transgêneros dentro da população.

A maior parte das variantes encontradas mostraram possuir substancial relação com os caminhos de desenvolvimento sexo-específico já revelados em roedores. Nove das variantes - genes CDH8, CTNNA2, DSCAML1, EGF, EFHD2, SYNPO, DNER, SPHK1 e TNN - estavam associados com a região mPOA, envolvendo a atividade da prostaglandina-E2 pré-sináptica e formação, arranjo e arborização dendrítica. Quatro das variantes - genes GRIN1, RIMS3, RIMS4 e MAP4K3 - com a região VMN, envolvendo a liberação de neurotransmissores e formação sináptica e dendrítica através do estímulo de receptores específicos. Uma variante - gene BOK - com a região AVPV, envolvendo apoptose e volume neuronais. Uma variante - gene KCNK3 - com a região do núcleo arcuado, envolvendo regulação no canal de K+ na transmembrana. As outras variantes únicas identificadas ainda não possuem uma relação clara com essas áreas cerebrais e precisam ser melhor investigadas.

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Apesar desses caminhos de desenvolvimento cerebral não terem sido ainda estudados em humanos no mesmo nível de detalhamento e robustez como em modelos de animais não-humanos, os achados do novo estudo pavimentam um novo caminho de investigação da contribuição genética da disforia de gênero na nossa espécie. O próximo passo dos pesquisadores é recrutar um número maior de transgêneros e de controles para verificar se as variantes genéticas identificadas de fato são uma constância entre os transgêneros e se outros genes também podem estar envolvidos.

Os autores do novo estudo acreditam que o gênero (identidade) é uma expressão genética no corpo assim como a cor dos olhos, e que variações levam indivíduos a terem diferentes identidades de gênero, englobando as duas generalizações 'masculino' e 'feminino', independentemente do sexo de nascimento. Se fosse algo simplesmente determinado pelo construtivismo social, reversões comportamentais ligadas ao gênero não seriam vistas em outros mamíferos, como ratos.


(1) Publicação do estudo: Nature (Scientific Reports)

Assinatura genética por trás da transgeneridade é revelada por estudo Assinatura genética por trás da transgeneridade é revelada por estudo Reviewed by Saber Atualizado on fevereiro 06, 2020 Rating: 5

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