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É possível alimentar mais de 10 bilhões de pessoas sem devastar o ecossistema


Atualmente, quase metade da produção de comida é baseada em processos ambientalmente destrutivos - desrespeitando as fronteiras de sustentabilidade do planeta. Estamos apropriando um grande excesso de terras para as plantações e a criação de animais, fertilizamos também em excesso e irrigamos muito extensamente, e todos de forma muito ineficiente. Esse cenário foi descrito em um estudo publicado ontem na Nature Sustentability (1), onde os pesquisadores mostraram que é possível alimentar até 10,2 bilhões de pessoas sem a necessidade de destruir o meio ambiente, uma população superior para o estimado até 2050.

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A agricultura global coloca pesada pressão sobre as fronteiras planetárias, impondo o desafio de alcançar uma seguridade alimentar sem comprometer o ecossistema terrestre, especialmente em termos de mudanças climáticas e perda de biodiversidade. No novo estudo, os pesquisadores analisaram o potencial de produção alimentar considerando quatro fronteiras interligadas da Terra (integridade da biosfera, mudança no uso de terra, uso de água doce e fluxos de nitrogênio) e sistemas de agricultura. A análise demonstrou onde e como essas fronteiras estão sendo violadas pelo atual modo de produção alimentar e em quais caminhos esse cenário pode ser revertido através de formas mais sustentáveis de agricultura.

Primeiramente, os pesquisadores mostraram que se o modo de produção de alimentos hoje respeitasse as fronteiras planetárias de sustentabilidade, apenas cerca de 3,4 bilhões de pessoas conseguiriam ser alimentadas com uma dieta balanceada (2355 Kcal per capita por dia). Hoje, a população mundial está em torno de 7,8 bilhões de habitantes.

Na segunda parte, analisando o que poderia ser feito para otimizar a produção de alimentos, os pesquisadores encontraram que, em teoria, 10,2 bilhões de pessoas podem ser alimentadas sem comprometer o ecossistema terrestre. Eles encontraram que, atualmente, a agricultura em várias regiões está usando água, terra e/ou fertilizantes em grande excesso, mas que existem enormes potenciais para aumentar a produtividade agricultural sem a necessidade de devastar, incluindo via restauração das terras degradadas e melhora dos campos de cultivo. Na África sub-Saariana, por exemplo, uma mais eficiente administração de água e nutrientes pode fortemente otimizar a produtividade das terras, como mostrado no mapa acima.

Aliás, podemos citar inclusive um estudo recente realizado aqui no Brasil pelo Projeto PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite). O estudo concluiu que 63% das áreas desmatadas na Amazônia Legal estão ocupadas por pecuária de baixa produtividade (pouquíssimo gado espalhado em grandes espaços) e 23% foram abandonadas e estão hoje se regenerando. Em outras palavras, grande parte do desmatamento na região, a médio e a longo prazo, se torna inútil, gerando terras sub-utilizadas ou abandonadas. Por que continuar devastando? Por que não utilizar as áreas já desmatadas?

E como um efeito positivo dessas ações, a agricultura sustentável pode aumentar a resiliência climática no geral enquanto também limita o aquecimento global. Em outros lugares, no entanto, a agropecuária está tão longe das fronteiras da Terra que mesmo sistemas mais sustentáveis podem não balancear completamente a pressão sobre o meio ambiente, como em partes do Oriente Médio, Indonésia e alguma extensão na Europa Central (mapa acima). Mesmo após recalibrar a produção agricultural, o comércio internacional irá permanecer um elemento central para alimentar o mundo de forma sustentável. Ou seja, países que conseguem produzir muito dentro das fronteiras de sustentabilidade precisam ajudar aqueles menos afortunados, e serem compensados por isso via acordos internacionais favoráveis.

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Além disso, os consumidores são parte essencial para a construção desse mundo mais sustentável. Segundo os pesquisadores, mudanças na dieta em larga escala parecem ser inevitáveis. Para exemplificar, aproveitando o atual aumento no consumo de carne pela China - algo que está afetando de forma significativa até o preço da carne Brasileira -, boa parte da proteína animal precisaria ser substituída por proteína vegetal, ou seja, as pessoas precisarão adotar mais legumes e outros vegetais na dieta. E temos dois efeitos positivos nessa mudança dietética. Primeiro, com menos animais de criação - especialmente o gado - para alimentar, muito menos recursos ambientais serão necessários para nos sustentar. Segundo, uma dieta mais verde - mas sem a necessidade de abandonar fontes animais - é mais benéfica à saúde e tornará a população mundial mais saudável. Hoje pode ser difícil para muitos pensar em diminuir o consumo de carne, mas uma simples reeducação alimentar desde a infância é suficiente para a mudança. Podemos citar os diferentes hábitos alimentares adotados por diferentes grupos geográficos. Enquanto na Ásia é costume consumir chás sem adição de açúcar, aqui no Brasil isso é geralmente impensável, e muitos exageram no açúcar ou no adoçante (o mesmo ocorre com o café). 

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> Um padrão planetário de dieta saudável e sustentável consiste de aproximadamente 35% de calorias constituída de grãos integrais e de tubérculos, proteínas provenientes principalmente de plantas - mas incluindo aproximadamente 14 gramas de proteína proveniente de carne vermelha por dia -, e 500 gramas por dia de vegetais e frutas. Ou seja, seria necessária uma diminuição no consumo de açúcar e de carne vermelha em cerca de 50%, enquanto o consumo de sementes, grãos, frutas, vegetais, e legumes precisaria dobrar. Atualmente, ao redor do mundo, hábitos alimentares não-saudáveis são responsáveis por aproximadamente 11 milhões de mortes prematuras todos os anos.
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Outro fator crucial no lado dos consumidores e também dos produtores é a questão do desperdício de alimentos. Cerca de 30% dos alimentos produzidos hoje vão para o lixo. Nos EUA, na média, cada pessoa desperdiça quase meio quilo de alimentos diariamente, algo que representa em torno de 1/3 das calorias diárias recomendadas para um indivíduo adulto. E o pior: quando esses alimentos são colocados em aterros, a decomposição destes produz metano, um gás estufa 25 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono ao longo de 100 anos. Estratégias para resolver a questão do desperdício de alimentos por si só já ajudariam a alimentar uma porção gigantesca da população mundial sem a necessidade de mais produção.


> Para mais informações sobre como produzir mais, mas de forma sustentável, acesse:

Floresta Amazônica: Preservá-la não é ideologia, é futuro

O Guru Ambiental do novo governo tem razão?


(1) Publicação do estudo: Nature

Referência adicional: PIK

É possível alimentar mais de 10 bilhões de pessoas sem devastar o ecossistema É possível alimentar mais de 10 bilhões de pessoas sem devastar o ecossistema Reviewed by Saber Atualizado on janeiro 22, 2020 Rating: 5

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