Pílula contraceptiva que precisa ser tomada apenas uma vez por mês

Em um estudo publicado no periódico Science Translational Medicine (1), pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Thechnology) reportaram ter desenvolvido uma 'pílula' contraceptiva oral que irá oferecer mais escolha e controle para as mulheres em termos de fertilidade. Uma vez engolida, a pílula (na forma de uma estrela) permanece no estômago por semanas, lentamente liberando hormônios que previnem uma gravidez. Projetada para resistir ao ataque ácido estomacal, ela já foi testada com sucesso em porcos e é esperado que testes clínicos em humanos sejam iniciados dentro de poucos anos.

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Existem vários métodos para a contracepção hormonal incluindo implantes subcutâneos, dispositivos intrauterinos (2), anéis vaginais, adesivos transdérmicos, injetáveis e pílulas orais. Mas de todos eles as pílulas orais diárias são as preferidas pela maior parte da população, possivelmente porque são fáceis de serem usadas, garantem oportunidade de auto-administração, e possibilitam rápida restauração da fertilidade após descontinuação. No entanto, a efetividade da contracepção oral é comprometida por causa da falta de aderência do paciente. Estudos prévios já mostraram que ao longo de um curso de 3 meses, certa de 40% a 50% das mulheres analisadas perdiam pelo menos uma dose. Uma porcentagem similar de mulheres reportam terem tomado a medicação na hora errada. Consequentemente, a chance de uma gravidez em mulheres tomando pílula fica em torno de ~9%  ao ano.

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(2) Leitura recomendada: Por que usar o DIU?

No novo estudo, os pesquisadores reportaram testes clínicos preliminares em modelos de animais não-humanos de uma cápsula oral que fornece ao longo de um mês inteiro a entrega de um hormônio contraceptivo, o levonorgestrel. A cápsula (do tipo 000), ao ser ingerida, libera seu conteúdo no estômago, o qual se desdobra em uma estrutura de seis braços até alcançar uma dimensão maior do que o piloro (orifício de comunicação entre o estômago e o intestino), forçando sua permanência na cavidade estomacal. Para resistir ao ambiente fortemente ácido (pH~1), os pesquisadores usaram um rígido polímero (garantindo integridade mecânica e química) para revestir os braços. Para a liberação lenta do hormônio, os pesquisadores encapsularam a droga em matrizes poliméricas especiais - PDMS ou poli(sebácico anidrido). A liberação do hormônio ocorre via mecanismos como difusão e hidrólise.

Testando o novo medicamento em porcos - animal de grande porte que possui uma anatomia gástrica similar à nossa - os pesquisadores comprovaram efetividade. Eles testaram duas formulações: uma carregada com três braços de poli(sebácico anidrido) e três braços de PDMS (formulação-1 de longa-ação) e a outra contendo seis braços carregados com PDMS (formulação-2 de longa-ação). Ambas foram comparadas também com uma estrutura apenas contendo o polímero estrutural. Na formulação-1, foi observada uma concentração máxima em torno de 55 pg/mL no dia 17, e concentrações de ~45 pg/mL e 54 pg/mL nos dias 3 e 11, respectivamente. Em outras palavras, concentrações próximas do máximo foram observadas em diferentes períodos durante o estudo, sugerindo uma liberação devagar e mais prolongada. Na formulação-2, foi observada uma concentração máxima no dia 2, ~126 pg/mL. No terceiro dia, a concentração do hormônio liberado foi mantida em 90% do máximo. Já na estrutura sem os polímeros especiais, o máximo de liberação caiu rapidamente para menos de 10% do total em menos de 2 dias. Mesmo com a perda de um ou dois braços durante os testes clínicos, a parte medicamentosa permaneceu retida no estômago por todo o experimento.

Dentro de 3-4 semanas as estruturas de estrela são quebradas e liberadas do estômago. Nenhum problema como bloqueio alimentar ou digestivo foi reportado, e a parte experimental sugeriu que problemas do tipo são improváveis.

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Mais trabalhos e testes clínicos ainda serão necessários para assegurar que doses hormonais sejam entregues ao corpo em níveis suficientes para suprimir a ovulação, para só assim serem iniciados testes clínicos em humanos.


(1) Publicação do estudo: Science