Esse sapo imita uma perigosa víbora para escapar de predadores
Em um estudo publicado no periódico Journal of Natural History (1), os pesquisadores descreveram uma espécie de anfíbio, o Sapo-Gigante-Congolês (Sclerophrys channingi), que consegue imitar, comportamental e fisicamente, a cobra peçonhenta e altamente perigosa da espécie Bitis gabonica. Um exemplo inédito e inesperado de mimetismo Batesiano.
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O mimetismo Batesiano é um fenômeno na natureza onde um animal não-tóxico simula um tóxico, buscando afastar possíveis predadores ao enganar este último. Esse tipo de mimetismo ocorre em vários animais, com numerosos exemplos já documentados de invertebrados, escamados inofensivos, e até aves que imitam cobras venenosas. No entanto, até o momento, nenhuma observação de anuros (anfíbios que incluem os sapos, rãs e pererecas) imitando uma cobra peçonhenta tinha sido reportado.
Nesse sentido, com base em dados comparativos de padrão de cores, morfologia, distribuição geográfica e comportamental, os pesquisadores no novo estudo encontraram que o sapo-gigante-Congolês, endêmico da República Democrática do Congo, é um mímico Batesiano da geograficamente bastante disseminada Víbora-de-Gabão (Bitis gabonica). Apesar do padrão de cor não ser perfeitamente sincronizado entre esses dois táxons, o S. channingi possui consistentes similaridades em certas marcas ao longo do corpo e uma notável imitação sonora da B. gabonica. Como a víbora em questão é bastante peçonhenta - com a toxina da sua peçonha possuindo efeitos hemorrágicos e anti-coagulativos -, o sapo não precisa nem ao menos ser extremamente similar a ela nas cores para afugentar possíveis predadores.
As Víboras-de-Gabão se distribuem em diversas regiões da África sub-Saariana, habitando florestas, bosques e mosaico-savanas. A mais disseminada (B. gabonica) ocorre no sul, no leste e na parte central da África. Já o Sapo-Gigante-Congolês ocorre nas florestas úmidas no norte e na parte central da África, compartilhando áreas geográficas com a B. gabonica. Após 10 anos coletando dados, em especial comparando sapos mortos dessa espécie disponíveis em museus com sapos vivos e com as víboras de 11 locais ao longo da República Democrática do Congo, os pesquisadores encontraram três marcantes similaridades entre esses animais:
1. O sapo possui um corpo com um formato triangular similar à cabeça da víbora.
2. Assim como as víboras, o sapo possui dois pontos marrom-escuros e uma listra marrom-escura que se estende ao longo das suas costas.
3. Quando o sapo sente perigo, ele faz um longo, baixo barulho de assobio, similar ao assobio que a víbora faz antes de atacar.
Todas essas similaridades fortemente sugerem que essa espécie de sapo é um quasi-perfeito mímico da víbora-de-Gabão. E dado a história evolucionária próxima entre as duas espécies (ambas evoluíram entre 4 milhões e 5 milhões de anos atrás) e o fato do sapo-gigante-Congolês ser encontrado apenas onde a víbora está presente, é muito provável que ambos co-evoluíram.
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De acordo com o estudo, o padrão diferenciado de cores do S. channingi parece beneficiá-lo na camuflagem entre folhas no solo, enquanto a emulação sonora, formato da cabeça e outras similaridades de mimetismo conferem uma vantagem ao tornar esse sapo parecido com a perigosa víbora.
Os pesquisadores também encontraram que duas outras espécies de sapo Africano do mesmo gênero do S. channingi (S. brauni e S. superciliaris) provavelmente usam o mesmo tipo de mimetismo, considerando que vivem também na mesma área geográfica e serem similares entre si.
(1) Publicação do estudo: JNH
Esse sapo imita uma perigosa víbora para escapar de predadores
Reviewed by Saber Atualizado
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outubro 31, 2019
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