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Antibióticos que os dentistas prescrevem são desnecessários 81% das vezes


Segundo um estudo publicado esta semana no periódico JAMA Network Open (1), e baseado na análise da população Norte-Americana, os antibióticos geralmente prescritos pelos dentistas como uma medida preventiva contra infecções são desnecessários 81% das vezes. O achado é mais do que importante, tanto porque os profissionais de odontologia são responsáveis por cerca de 10% de todas as prescrições de antibióticos nos EUA quanto por causa da crise cada vez crescente de resistência bacteriana (2). E essa situação parece se refletir em vários outros países.

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(2) leitura recomendada: O que são as superbactérias e a resistência bacteriana?


Antibióticos prescritos quando não necessários expõem os pacientes a diversos riscos de efeitos colaterais desnecessários - especialmente por interferirem na microbiota normal do corpo - e também fomentam o processo evolutivo no qual bactérias resistentes a esses medicamentos são selecionadas e ficam livres para formar populações de superbactérias. A crise da resistência bacteriana pode, em algumas décadas, tornar todos os antibióticos inúteis e já mata dezenas de milhares de pessoas todos os anos.

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No contexto dos consultórios odontológicos, hoje os antibióticos são idealmente recomendados como agentes profiláticos antes de algum procedimento dental para pacientes com certos tipos de condições cardíacas. Até há alguns anos, os profissionais de odontologia aplicavam esse tipo de profilaxia em pacientes com problemas cardíacos em geral e que possuíam implantes articulares prostéticos recentes. O objetivo era prevenir graves endocardites infecciosas e infecções nas articulações prostéticas via introdução de substancial carga bacteriana durante os procedimentos odontológicos. No entanto, esse tipo de estratégia preventiva foi revisado em 2007 (endocardite) e em 2013 (infecções nas articulações prostéticas), porque era baseado em baixas evidências científicas de eficácia, falta de associação entre endocardite e infecções articulares e cuidados dentais, e o risco de efeitos colaterais associados aos antibióticos. Resistência bacteriana, risco de infecção pela perigosa bactéria Clostridioides difficile, e efeitos adversos gerais não mostravam ser compensados por qualquer potencial benefício, o qual é provavelmente pequeno.

Portanto, antibióticos agora antes de procedimentos odontológicos são apenas oficialmente recomendados pelas agências de saúde para pacientes com condições cardíacas ligadas a um alto risco de efeitos adversos - derivados de endocardite infecciosa - que serão submetidos a uma intervenção dentária invasiva.

Nesse sentido, pesquisadores da Universidade Estadual de Oregon, EUA, usaram o banco de dados de uma agência nacional de saúde para examinar quase 170 mil prescrições escritas de antibióticos escritas por dentistas no território Norte-Americano de 2011 a 2015. Essas prescrições envolveram mais de 90 mil pacientes, 57% deles mulheres, com uma idade média de 63 anos.

Os resultados das análises mostraram que mais de 90,7% dos pacientes se submeteram a procedimentos que possivelmente requisitavam a administração prévia de um antibiótico (manipulação da gengiva, por exemplo). Porém, apenas 20,9% desses pacientes tinham uma condição cardíaca que tornava a prescrição do antibiótico recomendada - especificamente um alto risco de efeitos adversos como resultado de endocardite infecciosa. Em outras palavras, 80,9% das prescrições profiláticas de antibióticos eram desnecessárias e estavam expondo a grande maioria dos pacientes a efeitos adversos não compensados por benefícios.

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No oeste dos EUA é onde se concentrou o maior número de prescrições desnecessárias: 11601 das 13735 prescrições escritas, ou 85%, não estavam seguindo as recomendações oficiais de saúde. No noroeste, 78% das prescrições mostraram desnecessárias, no centro-oeste, 83%, e, no sul, 80%. Nas populações urbanas, 82%, nas áreas rurais, 79%. Entre as prescrições desnecessárias, o mais comum antibiótico prescrito era a clindamicina, e a condição mais comum justificando o antibiótico eram pacientes com implantes articulares prostéticos. Para piorar, a clindamicina está fortemente associada com as infecções pela bactéria C. difficile, a qual é responsável pela colite pseudomembranosa, um forma de inflamação do cólon que pode causar graves danos a essa porção intestinal e ser fatal. Uma em cada 11 pessoas acima dos 65 anos infeccionadas com a C. difficile morrem com a doença nos EUA (3). Os antibióticos não matam apenas as bactérias danosas no nosso corpo, como também diversas outras da nossa microbiota saudável. No intestino, os antibióticos promovem drásticos desequilíbrios na microbiota, facilitando a proliferação de bactérias maléficas e fomentando a evolução de perigosas superbactérias.

Aliás, o número dessas prescrições desnecessárias pode estar sendo subestimado, já que as análises se limitaram a pacientes com planos odontológicos comerciais e usaram uma ampla definição de pacientes com alto-risco cardíaco.

Segundo os autores do estudo, o achado não deve ser visto como uma forma de repreensão aos dentistas, mas, sim, de conscientização, especialmente em meio à crise de resistência bacteriana. Os antibióticos precisam ser cada vez controlados e administrados apenas em casos de real necessidade.

Ainda segundo os pesquisadores, estudos prévios em centros hospitalares também já mostraram que em torno de 30% dos antibióticos prescritos são desnecessários, indicando que esse não é um problema apenas nos consultórios odontológicos.


(1) Publicação do estudo: JAMA 

(3) Referência adicional: CDC


Antibióticos que os dentistas prescrevem são desnecessários 81% das vezes Antibióticos que os dentistas prescrevem são desnecessários 81% das vezes Reviewed by Saber Atualizado on junho 01, 2019 Rating: 5

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