Encontrada nova espécie humana nas Filipinas
Um time internacional de pesquisadores revelou os restos fósseis de uma nova espécie humana (gênero Homo) nas Filipinas, trazendo mais uma forte evidência de que a região representou um ponto importante na história evolucionária dos homininis (grupo de primatas superiores que divergiu daqueles que deram origem aos chimpanzés e bonobos, e do qual os humanos fazem parte). A nova espécie, chamada de Homo luzonensis recebeu o nome em homenagem à Ilha Luzon, local onde os novos fósseis foram encontrados e datados em mais de 50 mil anos. O estudo detalhando os elementos ósseos e dentários recuperados foi publicado hoje na Nature (1).
Nossa espécie (Homo sapiens) é uma entre várias espécies e gêneros de homininis que se diversificaram nos últimos 6-7 milhões de anos a partir de um ancestral comum na África que temos com os chimpanzés e bonobos. Eventualmente, os homininis começaram a sair do continente Africano, e a mais antiga evidência que temos de fósseis desses primatas migrantes data de 1,8 milhão de anos, na região da Eurásia. Humanos modernos (nossa espécie) evoluíram na África há cerca de 300 mil anos e a primeira dispersão para a Eurásia ocorreu há cerca de 200 mil anos.
Nesse cenário, o Homo erectus foi alegadamente a primeira espécie do nosso gênero a sair da África - fósseis foram primeiro encontrados na Ilha de Java, na Indonésia - e é argumentando que esse hominini começou a alcançar regiões bem longínquas na Eurásia ao redor de 1,5-2 milhões de anos. Enquanto isso, outras espécies de homininis teriam permanecido na África, evoluindo para outros táxons e sendo extintas. Porém, existem evidências também suportando a possibilidade de que outros homininis além do H. erectus se dispersaram a partir da África para a Eurásia durante o Pleistoceno Inferior (~2,58-0,78 milhões de anos atrás). Para exemplificar, ferramentas de pedra encontradas na China e associadas à linhagem humana datam de 2,1 milhões de anos, mas nenhum fóssil tão antigo de H. erectus foi ainda encontrado. Além disso, é debatível se o H. erectus é o ancestral direto do H. floresiensis, uma espécie que viveu na ilha Indonésia de Flores.
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Agora, os cientistas colocaram mais um peso favorável à ideia de que o H. erectus pode não ter sido a primeira espécie a migrar para fora do continente Africano, com a descoberta de vestígios ósseos e dentários de três indivíduos de uma nova espécie, o H. loresiensis. Na Caverna Callao, na região norte da ilha Luzon, Filipinas, pesquisadores desenterraram ao longo de 2007, 2011 e 2015 sete dentes, dois ossos das mãos, três ossos dos pés e um fêmur, pertencentes, no mínimo, a uma criança e a dois adultos dessa nova espécie e datados entre 50 mil e 67 mil anos atrás, do Pleistoceno Tardio. Os dentes incluem dois pré-molares e três molares do maxilar superior de um dos indivíduos. Mas o mais notável é que esses dentes e ossos possuem, no geral, uma combinação de características morfológicas nunca antes reportadas juntas em uma espécie de hominini.
Quando comparado com os molares de outras espécies de homininis, os molares H. luzonensis são bem pequenos, e as superfícies simplificadas das suas coroas e o baixo número de extremidades agudas são características similares às extremidades e coroas molares do H. sapiens. No entanto, as formas gerais dos dentes do H. luzonensis compartilham similaridades com o H. erectus da Ásia e a razão dos seus pré-molares é similar ao de espécies dos gêneros Paranthropus e Autralopithecus,
as quais são conhecidas pelos seus massivos maxilares e dentes. Já quando analisadas as junções esmalte-dentina (JED) - as quais representam a região interna do dente onde material da dentina encontra a camada de esmalte - do pré-molar, essas se mostram distintas de todos os outros homininis com exceção do H. floresiensis; mas na parte do molar, dependendo das especificidades analisadas, passamos a ter similaridade ou com o H. sapiens ou com o H. erectus Asiático.
E apesar de terem se separado no percurso evolutivo há no mínimo 2-3 milhões de anos, análises de escaneamento 3D mostraram que os ossos do pé do H. luzonensis é extremamente similar àqueles do Australopithecus africanus - os quais estão englobados em um gênero geralmente descrito como um intermediário entre as morfologias de primatas superiores e humanos modernos. Análises similares também mostraram que os ossos dos dedos são similares àqueles de homininis anteriores ao gênero Homo. Para completar, tanto os dedos dos pés quanto os dedos das mãos do H. luzonensis são curvados, fortemente sugerindo que escalar árvores era uma importante parte do comportamento dessa espécie, assim como muitas espécies ancestrais anteriores aos humanos.
Essas observações abrem duas possibilidades: ou o H. luzonensis evoluiu novas adaptações convergentes e/ou reversas na ilha em que se estabeleceu (efeitos de evolução insular) - explicando suas pequenas dimensões corporais -, ou essas características anatômicas foram passadas e conservadas a partir de um ancestral diferente do H. erectus que também saiu da África entre 2-1,8 milhões de anos atrás. Para elucidar melhor essa questão, os pesquisadores estão buscando por mais vestígios fósseis dessa nova espécie e também tentando recuperar DNA dos fragmentos ósseos sendo estudados.
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Nesse sentido, a origem do H. luzonensis, assim como suas relações filogenéticas com outros homininis presentes no leste Asiático em torno do mesmo período - incluindo o H. sapiens, H. floresiensis, Denisovanos, e homininis recente descobertos na China - permanecem ainda para serem determinados. Mas evidências indicam que o H. luzonensis pode ter se estabelecido em Luzon há 700 mil anos, evoluindo ali nas centenas de milhares de anos subsequentes.
No final, os arquipélagos associados ao sudeste Asiático são definitivamente uma região que precisa receber um maior foco exploratório em relação ao estudo da evolução humana. O isolamento proporcionado pelas grandes ilhas representou um robusto motor que possibilitou o despontamento de uma notável diversidade dentro do gênero Homo.
(1) Publicação do estudo: Nature
Referência adicional: Nature (Blog)
Encontrada nova espécie humana nas Filipinas
Reviewed by Saber Atualizado
on
abril 11, 2019
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