A violenta colonização das Américas esfriou o clima da Terra
Segundo a provocante conclusão de um novo estudo publicado no periódico Quaternary Science Reviews, e realizado por pesquisadores da University College London, Reino Unido, a Colonização das Américas no século XV, especialmente a Meso-América, matou tantos nativos que isso teve consequência direta no clima do planeta, levando a um resfriamento do clima global que corresponde ao período chamado de 'Pequena Era do Gelo' (Little Ice Age). E essa hipótese, considerada como conclusiva pelos autores do estudo, explica perfeitamente as evidências climáticas e atmosféricas associadas aos séculos XVI e XVII.
Na paleoclimatologia, temos registros de vários breves ou longos períodos de anormal aquecimento ou resfriamento no planeta (global ou local) causados por eventos diversos, como super-erupções vulcânicas, impacto de asteroides e mudanças na atividade solar. Hoje, enfrentamos um Aquecimento Global - acelerado aumento da temperatura média global - com fortes e praticamente conclusivas evidências acumuladas de influência antropogênica de maior importância nesse processo (1). Nesse sentido, um dos principais determinantes do atual Aquecimento Global é a excessiva emissão de gases do efeito estufa, em destaque o dióxido de carbono (CO2), via atividades humanas.
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(1) Para uma discussão mais aprofundada sobre o assunto, acesse: Aquecimento Global: Uma Problemática Verdade
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O novo estudo mostrou que um acentuado e anormal resfriamento no continente Europeu entre os séculos XV e XVII durante o período conhecido como Pequena Era do Gelo (1350-1850) parece ter sido causado pelo massivo colapso de civilizações e populações de nativos após a chegada dos Conquistadores. Durante a Pequena Era do Gelo, fatores como super-erupções vulcânicas e atividade solar levaram as temperaturas em partes do Hemisfério Norte, especialmente a Europa, a caírem substancialmente. Porém, no final do século XV e início do século XVII houve uma diminuição ainda mais brusca das temperaturas na Europa, fomentada por um resfriamento global de 0,15°C. O novo estudo coloca a causa desse resfriamento global nas invasões dos Espanhóis e outros Europeus conquistadores.
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Antes da chegada dos Europeus às Américas no ano de 1492, os pesquisadores estimaram - com base em 119 estudos sobre as populações pré-Colombianas - um estimado de 60,5 milhões de nativos vivendo ao longo dos continentes americanos Norte, Sul e Central (cerca de 10% da população mundial na época). Após décadas de massivos genocídios, disseminação de doenças, guerras, escravidão e colapsos civilizatórios com a chegada dos Conquistadores (2), a população de nativos Americanos despencou para apenas 5-6 milhões dentro de apenas 100 anos (~1600).
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(2) Importante deixar claro que existia violência e campanhas de Conquistas dentro da Meso-América antes dos Conquistadores chegarem, especialmente fomentadas pelos Astecas. O pós-contato Europeu foi responsável por levar a escala de genocídio a níveis absurdos. Para saber mais, acesse: Astecas, Sacrifícios Humanos e os Espanhóis
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Sabendo o nível de queda populacional, os pesquisadores calcularam o quanto de terra antes cultivada para o sustento da população original pré-Colombiana teria caído em desuso, e qual o impacto seria gerado se savanas e florestas reocupassem essas áreas abandonadas. Eles levaram em conta também peculiaridades das diferentes populações habitando as Américas, como comércio, práticas de agricultura e estruturas sócio-culturais.
A área estimada de desuso ficou em torno de 55,8 milhões de hectares, quase o tamanho da França. A escala de reflorestamento, nesse caso, seria o suficiente para diminuir os níveis de CO2 na atmosfera por 5 ppm (partes por milhão) extras à medida que as plantas fossem utilizando esse gás via fotossíntese para a construção dos seus tecidos (fixação de carbono). Para se ter uma ideia, a quantidade anual de CO2 lançada hoje para a atmosfera pelas atividades humanas equivale a cerca 3 ppm.
Com uma queda acentuada de dióxido de carbono na atmosfera, menos calor é preso na atmosfera, com consequente e significativa queda nas temperaturas globais. Com uma menor temperatura, menor a evaporação das massas de água oceânicas, e menor é a quantidade de vapor de água - um potente gás estufa - na atmosfera, fazendo com que as temperaturas sejam reduzidas ainda mais. Basicamente um Aquecimento Global inverso.
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De fato, análises de núcleo de gelo (3) mostram que a partir do final do século XV, existe um acentuado declínio do CO2 atmosférico - em especial no ano de 1610 (mínimo) - de 7-10 ppm coincidindo com o massivo acúmulo de nativos Americanos mortos e colapso das civilizações Meso-Americanas nessa época. Nesse sentido, esse evento de carnificina respondeu por cerca de 47-67% do declínio desse gás na atmosfera. Além disso, a composição atômica/isotópica das bolhas de ar presas nos núcleos de gelo sugerem fortemente que o declínio de CO2 foi dirigido por processos de reutilização de terras em algum lugar da Terra.
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(3) Para mais informações sobre as análises de núcleo de gelo, acesse: Cientistas retiram núcleo de gelo de 2,7 milhões de anos que revela o início das Eras Glaciais
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O novo estudo não só demonstra que as atividades humanas já estavam interferindo com o clima bem antes da Revolução Industrial, como também reforça o papel antropogênico das mudanças climáticas atuais. Ou seja, as variações de CO2 na atmosfera - entre outros gases estufas antropogênicos - marcadamente influenciam no clima global. E é também outro alerta: mesmo o reflorestamento de uma área do tamanho da França só conseguiu diminuir cerca de 7 ppm de CO2, algo equivalente ao total de emissões humanas nas últimas décadas de pouco mais de 2 anos de queima de combustíveis fósseis. É preciso reflorestar e investir em tecnologias verdes/renováveis, mas ao mesmo tempo é importante reduzirmos substancialmente a queima de petróleo, gás natural e carvão mineral.
Publicação do estudo: ScienceDirect
A violenta colonização das Américas esfriou o clima da Terra
Reviewed by Saber Atualizado
on
fevereiro 01, 2019
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