Revelados fósseis de transição que esclarecem um passo crucial na evolução dos répteis para mamíferos

Os mais do que raros fósseis da família de uma antiga espécie em fase de transição dos répteis para os mamíferos trouxe importantes esclarecimentos sobre o surgimento do complexo grupo de animais que engloba o ser humano (Mammalia). Os fósseis descobertos compreendem um adulto fêmea e seus 38 bebês, e representam a melhor evidência até o momento de que uma troca entre o tamanho do cérebro e a quantidade de filhotes foi um passo crucial e final para a emergência dos primeiros mamíferos.

Transformações em morfologia, fisiologia e comportamento ao longo da linhagem evolutiva percursora dos mamíferos foram acompanhadas por profundas modificações nos processos reprodutivos e de crescimento, incluindo a emergência de uma estratégia reprodutiva caracterizada por um alto investimento em um pequeno número de filhotes e heterocrômicas mudanças no desenvolvimento craniano inicial associado ao aumento do volume cerebral. Porém, até o momento, era desconhecido a sequência de eventos evolutivos para a emergência dessas características, devido à falta de fósseis específicos registrando essa transição.

- Continua após o anúncio -

Descritos em um estudo publicado esta semana na Nature, os pesquisadores têm agora os primeiros fósseis de filhotes pré- ou próximos de eclodirem dos ovos pertencentes a ancestrais percursores diretos dos mamíferos. Datado do Jurássico Inferior, há 184 milhões de anos, os fósseis de uma fêmea e seus 38 filhotes pertencem à espécie Kayentatherium wellesi (Cynodontia, Mammaliamorpha), um sinapsídeo não-mamífero em estágio de transição evolucionária para os mamíferos, retendo várias características esqueléticas desses últimos mas carregando diversos traços que os classificam ainda como répteis.

O gênero Kayentatherium divergiu um pouco antes de um hipotetizado pulso de expansão cerebral que reorganizou a arquitetura craniana na base dos Mammaliaformes. Mas a presença de tantos filhotes - mais do que duas vezes a média do número de filhotes gerados pelos mamíferos modernos - revelou que a espécie descoberta se reproduzia de uma maneira semelhante aos répteis. E levando em conta o pequeno volume cerebral dessa espécie - revelado por escaneamentos tridimensionais via tomografia computacional de raios-X -, fica inferido que o sistema reprodutivo e cerebral foram um dos últimos a evoluírem nos Mammaliaformes, representando uma mudança chave na transinção final de répteis para mamíferos.

O cérebro é um órgão que demanda um grande aporte energético para funcionar, assim como a gestação e cuidados com os filhotes. A descoberta que o gênero Kayentatherium retinha ainda um pequeno cérebro e vários filhotes sugere também que ocorreu uma troca entre essas duas características para privilegiar grandes cérebros em detrimento do número de filhotes, um traço importante que diferencia os mamíferos dos outros grupos de animais. Assim, com uma maior demanda energética cerebral, compensou-se com uma menor demanda na criação de filhotes. Isso corrobora os registros fósseis mostrando que apenas alguns milhões de anos mais tarde os primeiros mamíferos mostravam ter cérebros privilegiados mas uma prole reduzida (a origem dos Mammaliaformes - grupo de répteis extremamente semelhantes aos mamíferos - coincidiu com um aumento relativo de 50% do tamanho cerebral e a emergência do neocórtex).

Compartilhe:

Publicação do estudo: Nature