Cientistas revelam a evolução dos bicos durante a transição dos dinossauros para as aves

Como todos já devem - ou deveriam - estar cansados de saber, as aves evoluíram dos dinossauros. Esse é um fato corroborado por incontáveis evidências fósseis e anatômicas (1). Apesar dos cientistas terem descoberto diversos espécimes fossilizados representando óbvias transições evolucionárias entre dinossauros terópodes e aves, faltava ainda fósseis contando como a evolução de certas partes importantes do corpo das aves evoluíram, especialmente o bico. Agora, através de escaneamentos 3D, pesquisadores conseguiram caracterizar em detalhes um perfeito representante de transição dos bicos: espécimes do gênero Ichthyornis.

O Ichthyornis dispair é uma espécie extinta de ave marinha que viveu há quase 100 milhões de anos na América do Norte, durante o Cretáceo Superior, sendo bastante famosa há séculos por ter o corpo de uma típica ave moderna mas com uma estrutura face-cranial típica de um dinossauro terópode, incluindo dentes afiados. Descoberto primeiro na década de 1870, Darwin, em 1880, chegou a escrever que o Ichthyornis era um dos melhores suportes para a sua teoria da evolução desde que o 'On the Origin of Species' foi publicado 2 décadas anteriores.

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Agora, utilizando esse espécime fossilizado e mais quatro outros encontrados nos últimos anos parcialmente conservados, pesquisadores utilizaram uma técnica chamada de tomografia computadorizada de alta-resolução para compilar a reconstrução de cada um desses fósseis a partir de seções transversais extremamente finas ao longo dos ossos - basicamente como cortar uma peça de salame em fatias bem finas para depois uni-las (mas, no caso dos fósseis, as fatias estariam vindo de todos os fósseis para a feitura de um). Isso possibilitou a reconstrução 3D de um único fóssil muito completo, compensando as deficiências de cada esqueleto (partes faltantes ou destruídas durante as escavações).

Com um modelo 3D em mãos, bem completo e cheio de detalhes anatômicos, um programa de computador entrou em ação para permitir a manipulação das estruturas ósseas, possibilitando inferir como os ossos podem ter se movido.

As imagens cranianas resultantes mostraram que o bico do Ichthyornis possui algumas características que o coloca entre as mais antigas aves e representando, basicamente, como o primeiro bico surgiu na natureza: o bico era pequeno, não tinha ainda evoluído um suporte ósseo no palato e era limitado à ponta do maxilar. No entanto, a provável mobilidade do crânio mostrou-se mais parecida com as aves, com tanto a parte inferior quanto a superior sendo capazes de se moverem de forma independente (os dinossauro e nós, por exemplo, são animais que só mexem a parte inferior do maxilar, enquanto a parte superior da boca é fixa no crânio). Já o cérebro teria a forma similar às atuais aves, mas a região temporal, ligada pelos ossos do teto do crânio e a parte craniana lateral, tinha características mais próximas daquelas encontradas nos dinossauros, como a retenção de uma grande câmara óssea para os músculos adutores que fecham a mandíbula (algo similar ao encontrado, por exemplo, nos Velociraptores).

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Portanto, várias características morfológicas chaves do cérebro e do palato evoluíram antes dos músculos da mandíbula se tornarem reduzidos e as estruturas familiares dos bicos das aves modernas terem evoluído. Com o bico do Ichthyornis , no geral, similar ao das aves modernas - trazendo provavelmente uma dura cobertura de queratina - isso significa que essa estrutura surgiu mais cedo do que o esperado, talvez na mesma época quando as asas apareceram.

Trabalhos científicos futuros tentarão encontrar respostas sobre quais os fatores ecológicos levaram a essas mudanças (alimentação, habitat, etc.), incluindo aqueles que posteriormente levaram à perda dos dentes na completa transição evolucionária para as aves.

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Publicação do estudo:  Nature