Resolvido estranho e antigo mistério envolvendo os anquilossauros

Em um estudo publicado esta semana na Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, pesquisadores parecem ter finalmente descoberto um grande mistério que há décadas rondava a Paleontologia: o porquê dos fósseis de anquilossauros serem encontrados em sua maioria virados de barriga para cima.

Os anquilossauros (Ankylosaurus, clade: Ankylosauria) eram dinossauros visualmente bem distintos. Com o corpo achatado e gordo, possuíam uma boca que terminava em um bico bem duro e uma cauda que terminava em uma ponta grossa e cúbica. Era um dos maiores répteis com armadura, a qual percorria as costas e cobria a cabeça, adornada com vários espinhos ósseos. Pesando entre 4 mil e 8 mil kg, e alcançando os 7 metros de comprimento, esses verdadeiros tanques de guerra eram herbívoros, quadrúpedes e com uma provável origem no Início ao Meio do Jurássico da Europa, e já no Final do Cretáceo (74-67 milhões de anos atrás) se diversificarem em duas famílias (Ankylosauridae e Nodosauridaese) e se espalharam pelo globo.

Porém, um curioso fenômeno está associado a esses animais. Desde a década de 1930, paleontólogos têm suspeitado que algo bastante estranho na biologia desses dinossauros os faziam ser fossilizados de barriga para cima. De fato, os pesquisadores do novo estudo, ao analisarem 36 fósseis de anquilossauros da província de Alberta, no Canadá, comprovaram que 26 deles foram descobertos fossilizados de barriga para cima, ou seja, o fenômeno paleontológico não era algo exagerado. Apesar de várias hipóteses terem sido propostas para explicar essa notável observação, nenhuma delas possuía sólida evidência de suporte até o momento.

- Continua após o anúncio -

Nesse sentido, o paleontólogo Jordan Mallon e colaboradores do Museu Natural Canadense, em Ottawa, decidiram testar a fundo cada uma das principais hipóteses (quatro no total) propostas até hoje para, finalmente, desvendarem esse mistério.

A primeira delas era que os anquilossauros simplesmente caíam de colinas e outras elevações geográficas e acabavam terminando mortos de barriga para baixo. Bem, essa hipótese foi logo descartada, porque - além da falta de mínimas evidências científicas - se os anquilossauros fossem tão desajeitados a esse ponto, não teriam resistido no planeta por cerca de 100 milhões de anos.

A segunda, e bem popular, hipótese, é que os predadores desses animais - como tiranossauros - os viravam para comer sua barriga mole e evitar a parte espinhenta e grossa da armadura nas costas. Assim, após a refeição, a carcaça ficava lá de barriga para cima, podendo ou não ser fossilizada. Porém, apesar de tentadora, essa hipótese não se sustenta, porque em apenas um espécime fossilizado analisado pelos pesquisadores apresentava sinais de marcas de dentes.

A terceira hipótese baseia-se nos atuais tatus. Supostamente, esse mamíferos de armadura - após a morte - terminariam com suas carcaças viradas de barriga para cima por causa do inchamento dessa parte do corpo gerado pela produção de gases de decomposição. Assim, a barriga incharia e empurraria o corpo desses animais até que ficassem apoiados pelas costas. O mesmo processo poderia estar acontecendo com os anquilossauros. Porém, após a ajuda de pesquisa de campo de dois especialistas de tatus - Colleen McDonough e Jim Loughry -, e análise de 174 tatus mortos em estradas, nenhuma evidência foi encontrada de que eles regularmente terminam de barriga para cima. Ou seja, era apenas uma história para boi dormir. Para confirmar que isso era apenas um mito, os pesquisadores usaram carcaças frescas de tatus e as observaram durante dias de decomposição. Nenhum deles virou de barriga para cima por causa de inchaços ou qualquer outra coisa.

- Continua após o anúncio -

Então, finalmente, sobrou a última hipótese: o corpo dos anquilossauros terminariam de barriga para cima após serem virados enquanto boiavam em água. Nessa hipótese, é proposto que os anquilossauros mortos eram levados por águas de rios ou do mar, onde acabavam flutuando e ficavam instáveis, virando de barriga para cima e eventualmente afundando no solo oceânico ou fundo dos rios, para serem fossilizados ou não. Para analisar esse modelo, os pesquisadores usaram simulações digitais 3D representando espécimes das duas famílias constituintes dos anquilossauros. Levando em conta características físicas e fisiológicas do corpo desses dinossauros - incluindo capacidade pulmonar e densidade óssea -, e simulações de fluxos/dinâmica de água interagindo com os modelos criados a partir dessas características - preenchidos com gases representando o processo de decomposição - os pesquisadores finalmente conseguiram a resposta para o problema.

Os modelos computacionais de simulação mostraram que os corpos desses dinossauros ficavam muito instáveis flutuando nas água após a morte, e seriam facilmente virados com qualquer tipo de ajuda externa mínima - uma onda ou um predador xeretando a carcaça -, levando a maioria a afundar de barriga para cima. Aliás, os fósseis desses dinossauros estão ligados aos depósitos fluviais e marinhos do Cretáceo, fortalecendo ainda mais a hipótese.

A escolha dessa última hipótese para explicar o estranho fenômeno fóssil dos anquilossauros foi bem recebida pela comunidade científica como uma razoável conclusão final para o mistério (1). Além disso, o novo estudo acabou fomentando a quebra de outro mito: os tatus não tendem a ficar de barriga para cima após a morte.

Compartilhe o artigo: