Consumir iogurte diariamente pode ajudar a prevenir o câncer de mama

Segundo um estudo publicado no periódico Medical Hypotheses (1), uma das causas do câncer de mama pode ser inflamação engatilhada por bactérias deletérias no tecido mamário. A hipótese formulada por pesquisadores da Universidade de Lancaster, Reino Unido, não possui ainda sólida evidência científica corroborativa, e defende que inflamação induzida por bactérias patogênicas nos ductos mamários perturba a progressão ordenada da hierarquia de células-tronco em divisão, fomentando a patogênese do câncer de mama.

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O modelo hierárquico da gênese das células-tronco é baseado na ideia de que o número de divisões celulares entre o zigoto (união do espermatozoide e do óvulo) e as células epiteliais completamente diferenciadas é mantido próximo do mínimo, o qual é o logaritmo de base 2 do número total de células produzidas durante o tempo de vida humana. O modelo assume que a progressão ordenada de divisões das células-tronco requer controle preciso a cada estágio durante o desenvolvimento. Se essa progressão ordenada é mantida, então o câncer será um evento raro. Porém, se houver distúrbio na hierarquia dessa progressão - via trauma, ulceração ou inflamação - então o câncer irá ocorrer.

O novo estudo se baseia nesse modelo e em um dos fatores de distúrbio: inflamação. Em específico, os autores argumentam que inflamação causada por bactérias prejudiciais representam um fator de risco para o câncer. Fora do intestino, existem aproximadamente 10 bilhões de células bacterianas no corpo humano - no intestino são trilhões - e enquanto a maioria são inofensivas, algumas criam toxinas que engatilham inflamação no corpo, algo que, por sua vez, pode fomentar o câncer. Aliás, periodontite - uma condição inflamatória crônica bastante comum que afeta a gengiva - tem sido ligada a cânceres oral, esofageal, colônico, pancreático, prostático e de mama. E é aqui que entra o iogurte.

O leite de mamíferos não é estéril, contendo um amplo espectro de bactérias derivadas endogenamente via circulação entero-mamária. A flora dominante consiste de bactérias fermentadoras de lactose, e a lactação altera a microflora das mamas. Nesse sentido, as bactérias comumente encontradas no leite são prováveis de ocuparem os ductos mamários durante a lactação e por um período desconhecido após a lactação.

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A sugestão dos autores no estudo é que essas bactérias fermentadoras de lactose presentes nas mamas são protetivas, especialmente porque já foi demonstrado em estudos que cada ano de aleitamento materno reduz o risco de câncer em 4,3%. Com uma maior presença dessas bactérias, outras prejudiciais e inflamatórias são reduzidas.
                                                                             
Como o iogurte contém as mesmas bactérias benéficas encontradas no leite materno de mamíferos em geral - incluindo espécies similares às encontradas na microflora do tecido mamário de mulheres amamentando, como a Lactobacillus delbrueckii - os pesquisadores acreditam que o consumo diário desse produto - em especial iogurte natural - pode atuar como um fator de prevenção para o câncer de mama, ao aumentar a quantidade dessas bactérias no intestino e, consequentemente, no tecido mamário de mulheres que estejam amamentando ou não. E os pesquisadores também citaram vários estudos que encontraram uma relação positiva entre consumo de iogurte e redução de risco de câncer de mama.

Como conclusão geral, probióticos e pré-bióticos (2) podem atuar protegendo o corpo de inflamações provocadas por bactérias prejudiciais, e reduzir o risco de vários cânceres, caso a hipótese esteja correta. Adotar medidas que diminuam as chances de infecções bacterianas - como melhor limpeza bucal - também podem se mostrar importantes mecanismos de prevenção ao câncer.


(1) Publicação do estudo: Medical Hypotheses

(2) Leitura recomendada: A importância das fibras para a microbiota intestinal