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Cientistas descobrem porque a região central da Antártica resfria mesmo com o aumento de gases estufas


Desde a década de 1960, com a ascensão dos satélites, os cientistas têm conhecimento sobre um estranho paradoxo que ocorre na parte central da Antártica. Enquanto o aumento da concentração de gases estufas na atmosfera - principalmente de dióxido de carbono (CO2) - leva ao aumento na temperatura média global do planeta - o que vêm contribuindo para o aquecimento global -, na Antártica os gases estufas parecem estar fazendo o contrário, pelo menos até um certo limite e durante 9 meses do ano (os 3 meses restantes se comportam como esperado). Por muito tempo os pesquisadores têm atribuído grande parte desse efeito somente à ação do CO2 na estratosfera, mas um estudo publicado esta semana na Nature mostrou que o vapor d´água na atmosfera é o verdadeiro protagonista.

Os gases estufas, como o CO2, o metano e a água (vapor), aquecem o planeta ao absorverem as radiações de longo comprimento de onda (como o infravermelho) emitidas pela superfície terrestre (1). Nesse sentido, como a atmosfera absorve essas radiações, segue que o espectro de radiação escapando para o espaço não se origina da superfície, mas, sim, de uma camada atmosférica a uma considerável altitude, conhecida como 'camada radiativa', onde a energia térmica retida pelo efeito estufa é re-radiada após sucessivas emissões e re-emissões. A altura da camada radiativa é determinada pelo ponto onde a atmosfera se torna opticamente transparente, ou seja, onde não existe mais barreira para impedir a passagem da radiação.

(1) Para mais informações, acesse: Quais os mecanismos do efeito estufa atmosférico?

A temperatura geralmente diminui com a altitude acima da superfície, implicando que a camada radiativa emite menos radiação de longo comprimento de onda (LC) do que a superfície, reduzindo a perda de energia para o espaço. Uma camada radiativa mais fria em relação à superfície implica uma maior redução na perda de energia para o espaço e uma mais forte mudança no efeito estufa (MEE). A força do MEE, portanto, pode ser quantificada ao subtrair o LC sendo emitido de uma determinada área superficial daquele sendo emitido na mesma área só que acima da atmosfera terrestre (via satélites).

Esse cálculo segue o padrão teórico esperado para todas as localidades do planeta - maior concentração dos gases de efeito estufa, maior o efeito estufa, e menor é a quantidade de energia radiativa perdida para o Espaço -, com exceção da parte central da Antártica (no Plateau). Lá os cientistas encontraram um MEE negativo durante cerca de 9 meses do ano, implicando que os gases estufas ali presentes estão aumentando a perda de energia para o Espaço e, consequentemente, diminuindo a temperatura média da região. E é aqui que entra o novo estudo publicado na Nature, conduzido por pesquisadores ligados à NASA.

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Nas últimas décadas, os pesquisadores têm atribuído esse estranho fenômeno ao gás carbônico estratosférico, já que a região da estratosfera acima da Antártica central é tipicamente mais quente do que a superfície, sugerindo uma maior emissão de LC para o Espaço a partir desse gás nessa região. Completaria esse quadro a característica inversão térmica observada na Antártica: devido à grande - e recorde - altitude em que se encontra o continente (~2300 m), a temperatura ali aumenta substancialmente com a altitude, contribuindo também para um MEE negativo. Porém, toda essa explicação ignora efeitos verticais de emissão, e como a camada radiativa emite bem menos radiação na Antártica central, ela acaba compensando a maior emissividade estratosférica. Nesse sentido, o novo estudo mostrou que é o vapor de água, não o gás carbônico, o responsável principal pela anomalia.

Apesar da Antártica ser composta por uma massiva quantidade de gelo, essa região é considerada um deserto, porque ali não chove quase nunca, levando a umidade relativa do ar a valores muito baixos na superfície e ainda mais baixos à medida que a altitude aumenta. Nesse sentido, diferente do que ocorre no resto do mundo onde a quantidade de vapor d´água é bem maior, o LC emitido pela camada radiativa na troposfera acaba passando bem mais livre do que ocorreria, especialmente porque a água absorve fortemente radiações no infravermelho  em um largo espectro radiativo (1). Os cálculos realizados pelos pesquisadores e dados de satélites coletados reforçaram esse importante fator como o principal para explicar o anômalo valor negativo do MEE sobre o Plateau Antártico. Aliás, durante janeiro, por exemplo, quando a quantidade de vapor de água aumenta bastante na Antártica, a anomalia para de existir. As temperaturas estratosféricas maiores e a inversões de temperatura na superfície, raras no resto do mundo, completam o quadro.

O achado melhora o nosso conhecimento sobre o complexo sistema climático da Terra, e também reforça o papel dos gases estufas na atmosfera para o progresso do aquecimento global, onde a anomalia na Antártica é explicada pelos atuais modelos descrevendo a ação dos gases estufas e das variações de altitude no clima. Além disso, os pesquisadores mostraram que essa anomalia apenas irá obedecer até um certo limite de gases estufas na atmosfera, com o clima em toda a Antártica ficando mais quente durante todo o ano em concentrações mais altas do que as atuais de gases estufas, principalmente porque o aumento da temperatura média global arrasta mais vapor de água para toda a atmosfera do planeta (1).

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Publicação do estudo: Nature

Cientistas descobrem porque a região central da Antártica resfria mesmo com o aumento de gases estufas Cientistas descobrem porque a região central da Antártica resfria mesmo com o aumento de gases estufas Reviewed by Saber Atualizado on julho 20, 2018 Rating: 5

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