Cientistas retiram núcleo de gelo de 2,7 milhões de anos que revela o início das Eras Glaciais

No início desta semana, cientistas anunciaram a retirada de um núcleo de gelo na Antártica englobando camadas com 2,7 milhões de anos de idade. Esse achado é incrível e 1,7 milhões de anos mais antigo do que o último recorde quebrado.

Bolhas de ar presas no conteúdo desse gelo contêm gases estufas da atmosfera da Terra em um período quando os ciclos glaciais estavam apenas começando, o que oferece potenciais pistas sobre o que acionou as Eras Glaciais. Esse é o fantástico da descoberta.

E essa camada de gelo revelou que a concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera não ultrapassou as 300 partes por milhão (ppm), algo bem abaixo dos níveis hoje presenciados. Alguns modelos de mudança climática preveem que tais relativos baixos níveis de CO₂ seriam necessários para desencadear uma série de Eras Glaciais. Por outro lado, fósseis de animais que viveram em rasos oceanos indicavam níveis mais altos de CO₂ para esse período. Se a nova descoberta for confirmada, as informações atmosféricas desse núcleo de gelo servirão para calibrar as limitadas ferramentas fósseis de previsão relativas à atmosfera e será mais uma evidência reforçando o importante papel dos gases estufas (especialmente as variações de dióxido de carbono) na modulação do clima.

A área na Antártica onde o antigo núcleo foi descoberto compreende uma região de ´Gelo Azul´ antes pouco explorada, o que abre potencial para a extração de camadas de gelo ainda mais antigas. Cientistas sugerem que núcleos contendo gelo com até 30 milhões de anos de idade podem ainda ser encontrados. Hoje, a paleoclimatologia descreve bem o clima até 800 mil anos atrás. Mais extrações serão feitas na região de Allan Hills para se completar as informações climáticas entre 2,7 milhões e 800 mil anos atrás, juntando-se com os dados obtidos de amostras extraídas recentemente de 1 milhão de anos atrás (último recorde).

Anúncio da descoberta: GoldSchmidt

Núcleos de gelo: A Paleoclimatologia é fortemente dependente da análise de núcleos de gelo extraídos de regiões como a Antártica e a Groenlândia. À medida que o tempo vai passando, camadas de gelo vão se acumulando nessas regiões, aprisionando bolhas de ar contendo a composição da atmosfera em diferentes períodos de tempo. Como as camadas vão se acomodando verticalmente, é possível construir uma excelente linha do tempo climatológica.

Além da composição atmosférica, esses núcleos de gelo também guardam a temperatura da época nessas regiões, já que o calor flui vagarosamente nessas camadas, preservando a temperatura original (é como quando você vai fritar ou cozinhar um pedaço grande de carne congelada, e o seu interior permanece congelado mesmo após um bom tempo sob aquecimento). Assim, podemos relacionar, por exemplo, as variações de gases estufa na atmosfera com as variações de temperatura. Com esses dados, unidos com outras fontes de análise (fósseis, camadas de solo, ciclos orbitais terrestres, etc.), conseguimos ter uma boa ideia de como o clima na Terra vem mudando ao longo das eras.

Obs.: Os cientistas sabem que esse período é o início das Eras Glaciais a partir de informações confiáveis retiradas do estudo de camadas de solo nos continentes, onde pode-se observar os avanços e recuos das geleiras há milhões e milhões de anos atrás.

Gelo Azul: Áreas na Antártica onde os fluxos glaciais trazem camadas mais antigas de gelo em direção às camadas mais superficiais.

Referências adicionais:
1. http://www.sciencemag.org/news/2017/08/record-shattering-27-million-year-old-ice-core-reveals-start-ice-ages
2. https://earthobservatory.nasa.gov/Features/Paleoclimatology_IceCores/
3. https://www.cambridge.org/core/journals/antarctic-science/article/antarctic-blue-ice-areas-towards-extracting-palaeoclimate-information/15D1D17180A65A287AB4361CCAAB946E

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